Monday, August 27, 2007

TRIO DE LÍNGUA AFIADÍSSIMA

BAYARD TONNELI

IGOR COTRIM

GEAN QUEIROZ

Tuesday, August 14, 2007


UMA VIAGEM NO TEMPO
ÉPOCA / IDADE MÉDIA
DESTINO / UMA DISTANTE ILHA VICKING
A MAIOR AULA PRÁTICA DE HISTÓRIA DA MINHA VIDA


Esse verãozinho chuvoso de merda não deu trégua naquela manhã, mas nada poderia diminuir nossa alegria de pegar um barco pra ilha mais famosa da Suécia, Gotland, quatro dias na ilha da fantasia totalmente equipados, vai ser o máximo, é a ilha onde morava o genial Ingmar Bergman que morreu esta semana, se Bergman depois de fazer tantos filmes incríveis veio passar o fim de seus dias por aqui, é porque o lugar realmente deve ser especial, e agora estamos eu e meu amor neste navio, e ele está me levando pra uma ilha bela e distante, e eu vou, mesmo que fosse um deserto, mesmo que fosse o inferno, e assisto o filme ”A rainha” totalmente confortável no meu luxuoso assento com vista para o oceano, o que aumenta meu sentimento de nobreza, me sinto a própria princesa Diana no seu momento de glamour merecido longe dos papparazzis, que mulher surreal, nos poucos momentos em que ela aparece no filme quase consegue roubar a cena da fantástica Helen Mirren que interpreta a rainha, não vou descer deste navio sem dar uma bela cagada para deixar qualquer merda para trás. Chegamos nesta que é uma ilha de verão e não tem nenhuma mulher dançando ula-ula oferecendo colares havaianos, está chovendo e nós ficamos pensando que acampar talvez não seja uma boa idéia, quer saber, é aquela história quem tá na chuva blá blá blá, fomos para o camping nas bicicletas, é, viemos de bicicleta, primeiro no ônibus, depois no navio e agora pedalando na ilha do Bergman, cruzamos pelo centro e já deu pra perceber um pouco do que o lugar tem para oferecer, garantindo assim o ânimo pra montar barraca debaixo de chuva, beleza tá fraquinha, o camping é lindo de frente pro mar, show…….
Daqui pra frente um aviso, se você é uma daquelas pessoas que se incomoda com o prazer alheio, quando alguém conta uma conquista você duvida, vê um folião mais animado no carnaval logo conclui que ele deve estar bêbado e drogado, quando alguém está sorrindo é porque está querendo aparecer, se você acha que o paraíso e a plena felicidade não existem, então pode parar de ler por aqui mesmo, porque as linhas a seguir estão repletas de uma satisfação tão abundante que talvez nem Mick Jagger tenha sonhado, todos os acontecimentos apartir deste momento e em todos os segundos dos quatro dias seguintes são de uma magia inebriante, coisa para acordar a criança no peito e fazer um homem chorar por dentro a cada passo, a cada nova surpresa, um delírio cinematográfico tão inédito, que eu só posso buscar nas minhas referências algo entre Robin Hood, Peter Pan, O senhor dos anéis, Asterix e Obelix e todos aqueles filmes com piratas, castelos e cavaleiros tentando salvar a princesa, só que aqui não tem batalha nem dragão nem perigo algum nem indíce mínimo de stress, tudo está friamente preservado de não sei quantos milhões de anos atrás e batido no liquidificador com o que há de mais moderno, o antigo e a sofisticação, o rústico e o conforto, minhas primeiras impressões me levaram a lugares como Paraty, Santa Teresa, Ilha Grande, Búzios, mas aí eu posso jogar tudo isso junto neste cocktail misturado com uns anabolizantes poderosos, umas ervas finas e uns cogumelos potentes, e não adianta você falar ”_Haxixe bom esse que você levou hein Gean_”, não, não foi o haxixe, não foi o amor que trago dentro de mim e que senta ao meu lado e admira a paisagem comigo com lágrimas nos olhos, não foi isso, foi o lugar, então sem economizar nos superlativos, vou usar quase todos que conheço numa só frase e sem me preocupar com gramática vou repeti-los incansavelmente até o final deste texto
foi o lugar, absolutamente único, completamente fantástico, totalmente mágico, deslumbrantemente belo, incrivelmente imprevisível…eu avisei pros céticos pararem lá em cima, mas se você veio até aqui e quer seguir junto comigo, é porque assim como eu, você sabe que a vida nos reserva surpresas e prazeres que estão muito além de nossas expectativas e que todos nós merecemos ser surpeendidos pelo novo e que se um amigo está feliz e compartilhando isso com a gente, seja de que forma fôr, isso acende a chama da felicidade dentro da nós, e então seguimos todos juntos, cada um com suas conquistas ao redor do mundo que é tão grande tão surpreendente tão misterioso, e quando realmente sentimos essa conexão dentro da gente, a comunicação chega a tornar-se telepática, e ficamos felizes e pensamos em alguém distante sem que este alguém nos conte nada, por isso meus amigos sintam-se felizes comigo, pois estou transbordando como talvez nunca na vida. De uma só vez entendi tudo o que os suecos são, porque, como, o que eles pensam e de onde vem isso tudo, porra, que loucura que é a cultura de um povo, a história constrói a vida de uma forma fantástica. Hank é um vicking fudidamente autêntico e visceral, ele sabia tudo, sabia que a previsão do tempo garantiu sol absoluto nos próximos dias, sabia que iríamos chegar em plena abertura da semana medieval, o maior encontro deste tipo na Escandinávia, comprou barraca nova, trouxe o edredom, fogãozinho, as batatas, o presunto, o atum, as bicicletas, as cervejas, o vinho e a latinha de 51 contrabandeada do Brasil, tá bom o haxixe fui eu quem trouxe, mas eu sempre entro com essa parte, ele sabia tudo e só me deu a dica de que era um dos lugares mais bonitos da Suécia, tá bom, a Suécia é linda, Estocolmo foi o máximo que eu havia visto até agora, mas essa ilha é uma coisa fora da realidade, no que se refere a magia, ao antigo, a cultura sueca, a história que está totalmente viva nas suas ruelas de pedras e túneis e ruínas e muralhas e castelos, e ao mesmo tempo é mega realidade, no que se refere ao glamour, a estrutura do prazer montada em torno desta cultura tão autêntica, tudo isso de frente pro mar com kilômetros de praia e sol gritando. Cada nova esquina uma nova descoberta, cada praça, cada café, cada barzinho, e ainda curtimos um rock’n’roll num suterrâneo ali, e dançamos um eletro de primeira mais adiante, tudo lindo demais, porém ainda não tinha aparecido o sol até então e chovia de leve.
Mas na manhã seguinte, acordei botei a cara pra fora da barraca e o céu era de um azul cintilante, olhei em volta e pensei que estava em não sei que século atrás, eram vickings, magos, duendes, piratas, membros da côrte, plebeus, arqueiros, esfreguei os olhos mas eles continuavam lá, fui caminhando me misturando e vi que não era um ou outro que estava assim caracterizadoS, eram quase todos, famílias inteiras, esquentando o café no fogo, fazendo pão, sei lá, depois fui observando os contrastes, vi uma princesa falando no celular, um grupo de guerreiros posando pra foto, uns piratas ouvindo heavy metal e vários deles cheios de piercings e tatuagens, mas os trajes, totalmente fantásticos, não era fantasia, era de verdade, todos estão ali para celebrar e experimentar por alguns dias a forma como viviam seus antepassados. Os suecos definitivamente sabem acampar, eles trazem tudo e um pouco mais, montam uma casa inteira debaixo de uma árvore, alguns em seus trailers e outros em barracas de tudo quanto é jeito. Passeamos pela cidade que é um enorme museu vivo, tudo, cada cantinho, cada janela, cada pedra conta uma história, e dá-lhe vickings passando pra lá e pra cá, na feira onde era o centro do encontro de todos, acho que só tinha eu, o Hank e mais alguns gringos vestidos como em nosso século, era um desfile atemporal dos mais diferentes tipos históricos, e também as mais autênticas demonstrações do estilo de vida da idade média, as vezes me parecia que eu estava dentro de um desenho animado dos Flintstones, e era tudo tão de verdade, alguns exibiam longas barbas, as mulheres com cabelos até a cintura, crianças travando duelos de espadas, final da tarde armamos nossa cozinha na beira do mar, e era possível ver ao longo de toda a orla vários grupos reunidos fazendo a mesma coisa, cozinhando em fogueiras ou em fogãozinhos estilizados como o nosso, e admirando o pôr-do-sol, depois de três meses sem ver o sol direito, contemplar um entardecer espetaculoso como aquele numa ilha tão incrível realmente me deixou abobalhado de emoção, e comemos bebendo vinho branco, de longe uma gaita de fole soava para abençoar o dia, haxixe na mente, estávamos fudidos na alma. No domingo montamos nossas bicicletas e como bravos guerreiros e pegamos a estrada para dar um rolé pela ilha e ir até a principal praia de Gotland, foi mais de uma hora de pedalada, e eu tratei de avisar hank que ou a gente conseguia uma carona pra voltar ou eu ía dormir por lá mesmo, e que praia meus amigos, não perdia em nada pruma Ipanema dessas da vida, tanto pela vista quanto pela multidão que disputava o metro quadrado de areia, curtimos por lá o dia inteiro como duas crianças que estavam no mar pela primeira vez, ai ai, o que um bom dia de praia é capaz de fazer no astral de uma pessoa, por lá não tinha trajes de banho medievais, mas era um show de gente linda de deixar tonto, e na volta bicicleta no bagajeiro do ônibus, relax. A noite, remexi o guarda-roupa de nossa barraca para buscar o que de mais medieval eu poderia encontar e montei um figurino meio bobo da corte para poder me misturar a massa com mais estilo, fomos para o Clematis, o lugar mais tradicional da época dos vickings que tem na área, foi surreal, uma caverna à luz de velas totalmente lotada da fauna histórica, onde se pode beber vinho direto do barril numas canecas de barro, a certa altura começou a jam session medieval, o lugar foi ficando quente, os ânimos excitadíssimos, as pessoas batendo e dançando por cima das mesas, os músicos com seus instrumentos exóticos não paravam de chegar e tocar, foi algo inédito e fortíssimo na minha vasta experiência festiva, para encerrar com chave de ouro esses dias tão absurdamente surpreendentes.

Foi difícil deixar a ilha na segunda-feira depois de prolongar o passeio mais um dia, a vontade real nossa era ficar por ali naquela viagem no tempo o verão inteiro, todo mundo se sente um pouco assim quando viaja pra um lugar tão especial, mas eu tenho um problema seríssimo, porque eu realmente não vou embora, eu fico e pronto, se hank não tivesse me arrastado eu tinha ficado, e ainda sofro de um problema maior de pós-trip, entro em depressão profunda, quero voltar, e não consigo parar de pensar nisso, quando o navio começou a se afastar de Gotland senti como se uma espada vicking estivesse furando meu peito, e chorei ouvindo ”No cars go” do Arcade Fire no freestyle, essa que foi a música oficial de toda a viagem, um hino para enfrentar qualquer batalha e sair galopando pelos ares conquistando terras distantes. Mas quando chegamos de volta a Kalmar fez um sol tão fantástico, as praias cheias de gente, tudo tão bonito, deu pra amenizar o sofrimento de pensar em quando voltarei para aquele lugar tão mágico, foi a maior aula prática de história que já tive, e agora posso até entender um pouco mais como os suecos ficão histéricos quando bebem, é o vicking que eles trazem dentro que desperta, e eu, esse amazônida carioca também vou carregar minha porção medieval junto comigo muita mais viva e presente apartir de agora.

g.q.

Thursday, August 02, 2007

DISTÂNCIA PESA

AS DISTÂNCIAS SÃO PESADAS COMO UM MONSTRO
QUE ANDA DESPERCEBIDO FAZENDO A LUA TREMER COM SUAS PEGADAS.

A LUA CHEIA ACENDE O PAVIO DA MELANCOLIA
QUE É CURTO COMO UM SUSPIRO E RÁPIDO COMO UMA LÁGRIMA
QUE SE APAGA NUMA NUVEM QUE O VENTO NÃO LEVA.

O VENTO FRIO É CORTANTE E FERINO COMO LÂMINA
QUE REPARTE A NOITE EM PEQUENAS FATIAS DE SILÊNCIO FULMINANTE.

O SILÊNCIO RASGA A ATMOSFERA E PENETRA O CORPO
PARALISANDO OS SENTIDOS E CALANDO A VONTADE CEGA.

A VONTADE É UMA VELHA INVÁLIDA
QUE ASSISTE A VIDA PASSAR SENTADA NA JANELA.

DISTÂNCIA PESA COMO A LUA, COMO UM SUSPIRO, COMO LÁGRIMA,
COMO NUVEM, COMO O VENTO, COMO A NOITE,
COMO O SILÊNCIO.

DISTÂNCIA PESA COMO LEMBRANC,A
COISA INVISÍVEL QUE O OLHAR NÃO ALCANC,A.

G.Q.