Wednesday, June 18, 2008

EM CENA COM OS VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA

Tuesday, June 17, 2008

POR ONDE ANDARÁ O GAROTO
COM O SORRISO DO GATO DE ALICE
TATUADO NAS COSTAS?
Seguindo com meus passos e pensamentos molhados pela madrugada, me conecto com o imprevisível que me espera a qualquer instante. Eu pergunto as horas, não por escravidão ou pressa qualquer, mas por localização no presente ausente. Ele diz que é dez reais. Eu penso em me aborrecer, mas esboço um sorriso e digo, tá caro. Ele também ri, são meia-noite e meia. Eu agradeço. Ameaçamos seguir, nos olhamos. Ele me pergunta onde eu vou. Eu digo que tô de bobeira. Ele me convida pra beber uma cerveja. Já é. Descemos a rua Augusta, cientes de nossa ousadia inusitada, tentando nos arranjar motivos ou desculpas. Desnecessário. A conexão já estava feita, e percebemos nossas razões refletidas em nossas vibrações no tempo-espaço de nossos caminhos absolutamente fluídos e espontâneos. Era sexta-feia, dia 20, de novo o tempo, mas trata-se de uma cronologia importante para o desenrolar dos fatos. Ele fez aniversário ontem, eu fiz ante-ontem. Ele trepou com um ex sem graça num pulgueiro qualquer. Eu tentei esquecer a data, enchi a cara de vinho em completa solidão, e escrevi um texto deprê para tentar sensibilizar os amigos distantes, mandei por e-mail, e recebi umas duas respostas de apoio, nada que pudesse evitar um suicídio eminente. Pronto, vamos comemorar hoje a nossa existência, entregues ao completo desconhecido. O desconhecido humano. O desconhecido tempo. O desconhecido mágico, o desconhecido espaço, o desconhecido papo vivo caótico, entre nós, os escolhidos do acaso, no breve momento que precede o vazio. Tudo novo, tudo presente, tudo imprevisível. Estávamos absolutamente abertos, para ouvir e falar, e fizemos isso sem parar. O gato de Alice sorria nas suas costas. Minha guitarra soltava labaredas que refletiam no seu olhar curioso. Ele adora guitarras. Eu vejo sorrisos de gatos invisíveis à três décadas. Ele tem duas e meia e parece um cartoon, com uma risada que lhe contorce a face e se espalha pelo corpo inteiro, cheinho, preenche as roupas com fartura, e envolve todo o espaço com gestos redondos. Eu, algo entre os desenhos de Angeli, e a animação computadorizada de Toy Story, alto, esguio, chapéu na cabeça, um midnight cowboy, ou drugstore, algo entre os anos 70 e o novo milênio, meu tempo corre. Ele só quer saber do presente. Eu concordo. Nada além da contemporaneidade de nossos passos, poderia ter nos colocado ali, sentados naquela sacada de bar, com vista para encruzilhada cheia de seres desconhecidos. Nós dois vínhamos de relacionamentos difíceis. Desabafos. Ele me sai com essa “…na vida tem coisas que se quebram, que não voltam mais…”, é incrível como o óbvio dito na hora certa, causa um impacto dentro da gente. Análises mútuas. Silêncios de cumplicidade. Olhares cortantes. Confortantes. Pronto, já somo amigos de séculos. Tem um beck aí? Tinha. Vamos descolar uns tecos? Vamos. Não pagamos as cervejas, e seguimos leves, seguros, sem culpa nenhuma, caminhado entre os seres noturnos de São Paulo. Que delícia essa chuvinha. Garoa, ele me corrige. Ok. Duas de dez no bolso. Adentramos vips no Vegas, onde eu havia feito amizade noites passadas. Eletro Rolando. Fumamos, do dele, e do haxixe que o carinha animado com as duas gatas acendeu do nosso lado pra botar banca, botou. Elas bebiam champagne, bebemos. Chapados e felizes dançamos, entregues a balada. Dividimos o banheiro, coisa de narizes. Ele fez xixi. Eu fiquei de costas, mas virei a tempo de ver ele sacudindo. Frenéticos. Cheios de acaso. Deitamos no sofá vermelho. Próximos. Íntimos de tantos minutos. Por instantes nenhuma palavra, toque, lingua, beijo, longo beijo. Mais confissões. Nosso enlouquecido desejo de ser compreendido. Pelo outro? Por nós mesmos? Falar por falar. Ouvir por ouvir. Tudo tão fútil e indispensável. Voltamos pra rua, estamos extasiados. Como somos bem sucedidos e afortunados. Estamos absolutamente certos na nossa confusão. Tantos questionamentos. Eu saio com essa “… é preciso semear as perguntas para que as respostas brotem naturalmente…”. Ele puxa um papel e uma caneta e anota. Não me parece justo, tanta coisa foi dita. Me sobraram essas lembranças vagas, porém precisas no meu alvo atingido. Nossos seres absorvidos pela mágica da madrugada. Venenosa? Inofensiva? Não interessa. Fomos arrebatados pelo inesperado. O desconhecido em cada gesto. Tão próximos, tão dentro estivemos. Nos despedimos num longo abraço. Talvez nunca mais nos veremos. Deixamos pouquísimas pistas, não buscaremos. Deixaremos para o acaso. Somos filhos do nosso tempo. Enquanto estivermos vivos, talvez nos encontremos numa hora qualquer. No momento exato. Senão, tudo seria diferente.

g.q.


Monday, June 09, 2008

quando tudo parecia concluído algo mais se fez possível, sempre haverá alternativa de contraponto a decisão prudente, inconsequente por natureza me atiro no absurdo sem noção do perigo, quem me jogou na contra-mão? quem irá responder por mim? ora bolas, sou eu, eu mesmo, e eu de novo, até me canso de ser tantas vezes eu, um furo no breu, uma lasca de visão, cegueira de ânsias descontroladas, tudo disponível para o risco, agarro a ilusão pelos cabelos, desvio o olhar do meu reflexo no espelho, excessos e ausências, tão simples encontrar a rota, bastaria um pouco de vontade própria, mas o tudo que é nada é mais forte, o tempo todo jogando com a sorte, a que saber ousar com o mínimo de sabedoria pra se ter satisfação, e eu não consigo, mas insisto na contra-mão, na inconsequência, no absurdo, na possibilidade da conquista, nada à vista, perdido e sem rumo, brinco de engolir o instante como um guerreiro tolo e destemido.

g.q.

Wednesday, June 04, 2008




I

Três artistas
desafio
fronteiras do pensamento
compartilhar imensas partículas de verdade
estímulos
criação
descobrir a verve do entendimento
crescimento
atingir
o topo do imprevisível
segurar na mão do invisível
estar junto
instante pleno
delírio que aponta o alvo
dispara
o tempo todo é o momento presente
a arte de estar vivo
a necessidade
de recriar o real
estar junto é uma benção
a liberdade
uma canção
o som do sentimento
carícias de tempestade




II


ato
existir fora de
minha mão canta o outro
estar longe de si
montar barreiras no campo
abrir as pernas
agir
meu rosto vento
algo que se perde
assisto espelho
rastro de pelo no ar
encontro
você


111

você quer dizer o tempo exato
onde acontece todo atrito.
Estamos antes da faísca e depois da facada
antes do bebê fora e depois
na buceta

sobrevivemos na tentativa de aceitar impossibilidades
ninguém no corpo de ninguém
tudo um sinistro organismo que nao se reconhece

cortar cabelo
roer unha
abrir ferida
aparar pedaços..........................

tudo isso
o combustível da implicância inevitável de estar vivo




Gean Queiroz, Ericsson Pires e Botika

Tuesday, June 03, 2008

O que vai ser de nós dois?

me encara o antes

me pergunta o agora

o que vem no depois

o antes, o agora e o depois

tudo junto nesse instante

em que nada é como deveria ser

e o que é já não sei

o que foi ainda grita de longe

e o que virá a ser ninguém sabe

a espera pelo que talvez cairá do céu

não conforta em nada a alma

e o tentar correr atrás

faz tudo parecer tarde demais

passado, presente e futuro

tudo junto no liquidificador do coração

decidir a vida com as mãos atadas

um nó na garganta

e um punhal apontado pro peito

buscar as respostas jogadas no lixo

remexer os cantos escuros

e só enxergar a luz bem distante

quase inalcançável

ficar aqui martelando sentimentos

na escuridão do pensamento

que não encontra saída

de olhos abertos não te vejo

mas quando os fecho você está por todo lado

de que serve amar sem tocar?

de que serve sofrer sem saber

se vale a pena esperar?

construímos castelos no invisível

plantamos sementes demais

as raízes se espalham por dentro de nós

sinto meu corpo todo explodir

e de nada adianta fugir

ou cuspir pra fora essa angústia

a que se entender o organismo

da incapacidade de se decidir o que sentir

pois tudo segue crescendo continuamente

engasgando a gente de tanta saudade

mastigando os órgãos do corpo sem piedade

não existe freio, só existe o tempo

uma espera estúpida e frustrante

uma porrada na cara do amor

um soco no estômago de nossos sonhos

foi isso que a gente plantou?

Que estrada é essa que a gente pegou?

Engolir a distância a seco

secar as lágrimas

deixar escorrer todo desejo pelo ralo

tudo escapando por entre os dedos

o antes embriaga

o agora cega

e o depois...

só pergunta sem parar

o que vai ser de nós dois?


REFLETINDO BASTANTE
A RESPEITO DE COISAS INÚTEIS
É QUE PODEMOS SORRIR DE NÓS MESMOS
PARA EMERGIR DESTA DIMENSÃO SOTERRADA
E LEVITAR SOBRE OS POUCOS SENTIDOS

Monday, June 02, 2008

as vezes
quantas vezes
eu me canso de mim mesmo
as vezes duram meses
as vezes anos
muitos anos duram esses
meses quase tantos
que as vezes
eu me esqueço
de mim mesmo
em algum canto
e quando eu vejo
eu me espanto
do meu esquecimento
naquele momento
e as vezes eu penso
que eu entendo
aí eu me canso
do meu pensamento
as vezes duram dias
as vezes semanas
muitas semanas duram esses dias quase tantos
que as vezes eu me levanto
e me esqueço que eu me canso
de ficar esquecido num canto
aí eu me lanço
fora do tempo
levado por um vento
que as vezes é lembrança
outras esquecimento
as vezes duram alguns segundos
poucos esses
que me fazem voar
pelo espaço
as vezes
quantas vezes
eu vou fundo
dentro de mim
fora do mundo.

g.q.

Sunday, June 01, 2008


o gosto do vinho
o som do jazz
o mundo aos nossos pés
tudo ao alcance das mãos
idéias rolando pelo chão
carências se dissolvem sob a chuva
a gente rege a tempestade
direciona cada raio
de olhar
magnetiza a existência
eterniza o instante em versos
o imprevisível fluir de cada gesto
a fumaça sumindo no ar
a cadeira suspensa que gira
o som do pensamento
inevitável deixar-se ir
corredeiras da alma
simplesmente sentir
sem medo de errar o alvo
gosto dessa calma
de estar aqui
com fome de tudo
e a certeza de poder esticar o braço
e alcançar a fonte
entregar o ouro
e fincar raízes no impossível
quando acabar a gravidade
vamos planatar sementes
na imensidão

gean queiroz e beatriz provasi
domingo chuvoso, no inverno do rio de nós dois