Saturday, December 18, 2010


as vezes vem que bate
um tapa, um lance, um baque
um rompante de clareza
um surto de certeza
o vácuo da viagem
o trago da paisagem

as vezes vem que arde
um fogo, uma chama
um troço que invade
um sinal de alarme

as vezes vem que ve
m
um jato, um míssil, um trem
o instante do pensamento
a velocidade do vento
o sonho que desperta
o momento da mente aberta

as vezes vem que chega
uma chama acesa
um coisa tesa
um pau na mesa


as vezes vem que explode
e quando vem
eu digo
fode


joka
18.12.2010

Monday, July 12, 2010

AGARRAR A DISTÂNCIA
COMO QUEM DANÇA O QUE DIZ
COMO QUEM TANGE O LONGE
AONDE O INSTANTE ALCANÇA O ONDE
O QUE O AGORA ESCONDE
SURTO DE SER O QUE NÄO SE SABE
QUANDO SE SENTE O QUE JÁ NÄO CABE
HORIZONTE ONDE O OLHO DEITA O MAR
TUDO SE ABRE PRA TARDE EM LUZ ENTRAR
UM VAZIO IMENSO A SE PREENCHER
COM O QUE VIER E HÁ DE SER
ONDE TUDO O QUE ME HABITA
SEJA UMA TERRA DE VIDA À VISTA.

JOKA
GOTLAND 2010

Thursday, May 13, 2010

De outonos OU das coisas suspendidas
Era uma vez um menino que usava um rubro capuz cor de maçã bem madura. Ele tinha uma boca de cujos dentes rebrilhavam ainda repastos de seu lanche frugal: restos de lobos, de vovozinhas friorentas, de caçadores viris com espingardas na mão, de netinhas desdenhadoras de atalhos. Tudo cabia em sua barriga-coração: seu leite, seu pão.
As folhas atiravam-se das árvores como fazem quando querer não mais ser, e forravam um colchão onde se deitar, deitado - o menino - mais se aprumava ereto, com seu gorro de vermelho vermelho, pra fazer sua digestão. Dele evaporavam girassóis, calêndulas, violinos, sementes bonitas, folhas amarelas recortadas com delicadeza. Ele todo outonava, espreitando o céu em cima, o chão em baixo. Sobre o colchão de folhas ele - suspenso - maquinava com um gesto de pássaro - suas próximas aparições, suas próximas manhãs, seus próximos desenhos e banquetes. E de sua boca e dentes a palavra "outono", em silêncio, escapava.

Raimundo Cassiano Ferraz