Tuesday, August 19, 2008

POETA REPLETO DE SOL
EU CONTABILIZO A TARDE
EM HORAS VASTAS
TEMPO GANHO
HORIZONTES LARGOS
SORRISOS AMPLOS

O POETA É XAMÃ
TRADUZINDO OS PRECÍPICIOS DO SER
EM IMAGENS FOTOGRAFADAS NA RETINA
CONSTRUINDO ORGANISMOS DE PALAVRAS
DO QUE SE VÊ
NO QUE SE SENTE

O POETA FAZ DO CALOR
SENTIMENTO PALPÁVEL
NO OLHO DO FURACÃO DO PEITO.

Saturday, August 16, 2008

ESTRADAS, ABISMOS E CORREDEIRAS
MADRUGADA QUE VAI
MANHÃ QUE VEM
A ESTRADA DO PEITO ABERTA
RUMO A SERRA DO TEPEQUEM
NÓS OS DESPERTOS
PRONTOS PARA DEVORAR O DIA
NA FOME DE AMANHECER
ANTES DO FIM DAS HORAS
ANTES DO TEMPO DOS ANIMAIS ADORMECIDOS
ONDE O CAMINHO SE ESTENDE NO OLHAR ACESO DE TANTO VERDE
O CONFORTO DE SER SOZINHO E SEGUIR JUNTO
ESTAR PRESENTE COM O PASSADO NOS OMBROS E O INFINITO À FRENTE
SEM NADA A ESCONDER DIANTE DO SOL
NADA A TEMER NA BEIRA DO ABISMO DE SER
DESBRAVADORES DA ESTRADA ABERTA
PEITO PULSANTE DE LEMBRANÇAS
ATIRANDO LONGE O PENSAMENTO
NA ESPERANÇA DE DESVENDAR
OS MISTÉRIOS DO TEMPO
QUE ENGOLE TODO O SENTIMENTO
MAS QUE NUNCA IRÁ APAGAR O QUE FICOU

ATRAVESSAR AS DISTÂNCIAS
PERCORRER TODOS OS QUILÔMETROS NECESSÁRIOS
PRA QUE AS RESPOSTAS BROTEM NO HORIZONTE
CRUZAR AS PONTES, OS OBSTÁCULOS, OS RECEIOS
AFIRMAS OS LAÇOS
SEMEAR SORRISOS
BEBER OS RAIOS DE LUZ
SUBIR ATÉ O TOPO DA SATISFAÇÃO
DEIXAR A IMENSIDÃO VERDE
EMBALAR DE ACEITAÇÃO O INSTANTE
NO FIRMAMENTO DE UM ABRAÇO
ENGOLIR AS MONTANHAS
E DEIXAR A CACHOEIRA CORRER POR DENTRO DO CORPO
LIMPANDO AS VEIAS, OS PÓROS, O ROSTO
DE TODA CASCA QUE AS ANGÚSTIAS
TENTARAM ENCRUSTRAR
DESLIZAR O SONHO PELAS CORREDEIRAS
QUE ACARICIAM A ALMA
CRUZAR O LAVRADO FEITO UM TAMANDUÁ
FLUINDO PRA DENTRO DA ETERNIDADE.


GEAN QUEIROZ...RORAIMA...SERRA DO TEPEQUEM...2008

FRONTEIRAS, DELÍRIOS E HORIZONTES


I
CACHOEIRA DE MIM
CORRENTEZA DO MUNDO
FLUXO DA SABEDORIA
DESLIZANDO PRA DENTRO DA ALMA
O ESTÔMAGO DA TERRA
O PENSAMENTO ORGÂNICO
A FOME
O DESLUMBRAMENTO
ETERNA CRIANÇA
QUE BRINCA DE CONGELAR O TEMPO
A CADA FRAGMENTO DE EXISTÊNCIA
SIMPLESMENTE DEIXAR-SE IR
INOCENTE E ENTREGUE
AO ACASO.

II

PEDRAS
TUDO SÃO PEDRAS AO SOL
TUDO É SOL
TUDO É PEDRA
RASGANDO OS CAMINHOS AO MEIO
ESPALHADAS NAS MONTANHAS
MONTANHAS SÃO CAMINHOS PARA AS ALTURAS
PEDRAS, CAMINHOS, ALTURAS
HABITADAS POR ANIMAIS SOLITÁRIOS
SENHORES DA TARDE
IRMÃOS DO CALOR
OS OLHOS SE LANÇAM
AS PALMEIRAS DANÇAM
OS TAMANDUÁS POSAM
PARA A RETINA DA BELEZA
TAMANDUÁS SÃO BELEZAS
QUE DESAFIAM A RETINA
DIONISÍACA ORGIA DO ABSURDO
AO ALCANCE DOS DEDOS
NO OLHO DO FURACÃO
O TURBILHÃO DA MENTE
SERPENTES
PEDRAS
BICHOS
GENTE
SOMOS TUDO ISSO
E O ISSO É TUDO
O TUDO É O QUE SOMOS
O QUE HÁ É ISSO
SOMOS O QUE HÁ
O QUE HÁ É TUDO.

III

BURACOS NA ESTRADA
SÃO PORTAIS PARA O ÚTERO DA TERRA
O SOL NAS MONTANHAS
SÃO ESPELHOS DA PERFEIÇÃO
JOGADA NA CARA DO SEGUNDO
FULLGÁS, ETERNO
O SEGUNDO FICA
OS BURACOS PASSAM
O SOL É UM PORTAL
NO BICO DO PEITO DA MONTANHA
OLHA SÓ O SOL
O SOL SÓ
NO BICO DO PICO DO TOPO
A MONTANHA FICA
OS PENSAMENTOS PASSAM
A MENTE É UM PORTAL
NO BICO DO PICO DO TOPO DO ENTENDIMENTO
CONTEMPLAR JÁ BASTARIA
ENTENDER ENTÃO
É DIVINO.

Gean Queiroz...fronteira Brasil/Venezuela...2008

Tuesday, August 05, 2008

GO BACK CABOCLO
O PRIMEIRO POEMA DE VOLTA PRA CASA
o cheiro de casa
cruza a distância
sobre um céu de breu
que adentra as narinas
sufocando de lembranças
o semblante adormecido
do menino que já não há
o que foi, enterrei no quintal
e fui pra bem longe montado num camaleão
por muito tempo
senti o odor dos cajus apodrecidos
impregnado em meus dedos
como feridas a me corroer os ossos
e não entendia porque tudo era tão estranho
ou se o estranho era eu
até conseguir entender e aceitar
que o perfume do passado
é necessário pra vida
é tatuagem na alma
é cafuné de cachoeira
é grito que explode no salto do alto do barranco
pra dentro do rio
fluxo da correnteza
que me traz de volta
na certeza
de que é nessa horta
que se prolongam minhas raízes

a lua do céu de minha infância
é tão grande
que dá medo lembrar
e os fantasmas no escuro da casa na árvore
os gritos de meu pai
o tiro no meu cachorro doente
que não vi
mas ecoou durante anos
corri na direção oposta
seguindo as trilhas dos tamanduás e dos cavalos selvagens
saí espalhando livros e discos e filmes pelo caminho
sumi por dentro de mim
e só voltava se fosse pro colo de minha mãe
pra onde vou agora
pra companhia daquele eterno amigo
o mais lindo de todos
que nunca foi meu como eu quis
mas que talvez por isso mesmo
existe até hoje
ainda na minha rua
e a mesma cumplicidade de bichos indomados
apesar de toda a diferença
não engoli os sapos amigo
demos choque neles
jogamos pedras nos telhados
arranhamos os carros
roubamos as revistas
tocamos todas as companhias
e eu assisti de camarote você espancando os fracotes
e comendo todas as menininhas
mas fui eu que ensinei as sacanagens
pra todos os amiguinhos da vizinhança
menos pra você
que já sabia tudo e escolheu seu próprio caminho

deslizamos juntos pela madrugada
cheios de fúria e curiosidade descontrolada
destilamos poemas
ao som de The Doors
e abrimos as portas da percepção
descobrindo todos os segredos da escuridão
e a revolta tornou-se guia
o ódio a tudo nos fez companhia
e eu voei pra bem longe montado nas asas de um urubu
e vi que o mundo cheira a podre em qualquer lugar
tudo está impregnado de lixo
os rios de lá estão muito mais sujos
a coisa lá ta preta
e aqui tudo é verde
tudo é mato
a lama daqui
é de frutas no quintal
de longe se vê melhor
o que já não há
mas que ficou
vivido e marcado
e que jamais será esquecido
o bom filho a casa retorna
no chão de minha terra minhas feridas vou curar
o uivo do caboclopunk vai voltar a ecoar.


G.Q...Boa Vista / Roraima...julho...2008

Sunday, July 20, 2008


lá vem ela ou ele ou aquilo
objeto humano ou extraterrestre
ser isento de definições de gênero
caminhando serelepe saudando a plebe
com seu traje de lycra amarelo
um anti-herói no cartoon da madrugada
apenas mais um exagero de síntese do grotesco
feito a fancha bêbada na sua discussão eterna
com sua vítima entediada
ou a outra que caminha trôpega
desfilando vulgaridade explícita
na sua embriaguez exibicionista
cumprimenta a todos com tapinhas de cumplicidade
que numa resposta um pouco mais forte
a derrubaria mais adiante
o rapaz de olhos e passos vidrados
parece ter encontrado uma vítima
e depois de uma curta negociação
parte acelerado rumo a não sei onde
e volta atrasado mais bem sucedido
encontrando seu cúmplice inquieto no décimo cigarro
e entregando-lhe o conteúdo esperado num gesto rápido
fica por ali a espera do próximo vôo até o morro
os comparsas moradores da rua
agem juntos na sua mendicância eficaz
expondo ao máximo suas fraturas sem comover ninguém
vencem pelo cansaço e acumulam lucros
que serão empregados num amanhecer
cheio de sol e cachaça nas areias da praia
as bichas velhas caminham famintas e ignoradas
as afetadas espalham risadas histéricas
as malhadas assistem a tudo de cima
exibindo seus carões e músculos
sem dar trela às velhas e as afetadas nem ninguém
terminarão a noite masturbando-se
com consolos gigantes enfiados no cu
as únicas que saem ganhando sempre são as gringas
que investem caro, mas gozarão divinas
enrabadas por um ou dois garotos de programa
e além de prazer receberão de brinde um vírus qualquer
a polícia não podia faltar no circo
e arma sua barricada de extorsão
iluminando a passarela dos animais noturnos
com suas sirenes pós-modernas
rose bombom acena para eles
e parte acelerada no seu táxi rumo a baixada
provavelmente cheia de cocaína escondida em baixo do saco
depois de mais uma noite de bizarrices
que eles chamam de show no palco da le boy
os que chegam a essa hora passam direto para o darkroom
buscando prazeres rápidos com suas bocas nervosas
mãos frenéticas e gélidas carnes flácidas
uma cena em cada esquina
a favela crescendo por trás do túnel
a lua espalhando seus fluídos mais nefastos
penetrando os sentidos dos seres mais suscetíveis
entregues a todos os impulsos e a qualquer novidade
é só mais uma noite tranqüila no reduto gay de Copacabana
o mendigo acende a bagana
a puta cheira a última carreira
eu fecho a conta
e subo pro 209 do Bronx para eternizar a noite nestas linhas.

esse trecho sinuoso entre tuas pernas
reduz minha velocidade
descendo lentamente pelas curvas do teu corpo
deslizando pela pista a vontade
retorno mais adiante
entradas e saídas
várias vias
atenção
curva perigosa
não se perca no atalho
mas se atire nas descidas
o caminho se estende
até onde a seta, a língua e o dedo aponte
louca rodovia de desejos
queimando a pele no asfalto quente.

Saturday, July 19, 2008


com o olhar perdido, visualiza-se no breu a frente somente o instante presente, o vazio dos impulsos apodrecidos, de passos inconsequentemente desnecessários, que te levam através de instintos desconhecidos e incontroláveis, e te dominam na sede obscena de que algo intenso aconteça. dominados por gemidos, uivos, palavrões, suor, bocas nervosas, mão frenéticas, com a mente anestesiada, e o corpo mecanicamente entregue a perversão doentia, no toque que invade e agride, devastando qualquer pureza, destruindo qualquer desejo espontâneo e sincero… a escuridão te engole pelos testículos.

vagar incansavelmente pelas veias da cidade, seres sonâmbulos, sem nenhuma motivação além de sugar toda a química da madrugada, flutuando sobre qualquer racionalidade, cuspindo sobre as cabeças dos caretas, entregues a mais fútil casualidade, atirando aonde o alvo se mostre e o desejo aponte.

variadas poções de misturas alcoólicas, essências de transpirações corporais, odores de cavidades e becos escuros, sabores deliciantes, mágica venenosa do animal humano que desperta para uma caminhada de caça ao êxtase, que vive entorpecido de ego, em absolutas e tortuosas verdades, entre claras e iluminadas viagens.

de longe se escuta uma música bêbada, alguém sorri desesperadamente, e todos fingem manter tudo sob controle, entre palavras forjadas e passos sem direção, olhos tentam pular fora das órbitas, na ânsia muda de dizer algo, ou engolir tudo. garotas de mãos dadas, cúmplices sedutoras desfilando sexo, rapazes famintos engolem às vezes a si próprios, na carne que arde a qualquer toque, e elas por sua vez se acendem umas as outras, mantendo-se acordadas por mais tempo. e onde o tesão se abrasa, e ferve, tudo se mistura, na louca descoberta de inúmeras possibilidades.

o que nunca deveria existir, era o que estava vivo, era o que surgia na luz do dia, quando já tudo parecia concluído, o inesperado seduz com sua perigosa magia de sombras na visão quase adormecida, as horas nunca terminam, e o desejo nunca acaba, alguns orgasmos não são suficientes, não existe satisfação na madrugada obscura, nada existe quando nos atiramos no vazio, nem o eco do grito, nenhum sexto sentido para nos avisar do perigo. quando a noite acaba, o sol devora tudo, calmamente e sem piedade. é preciso acender as cores desta cidade nublada.



ERA ÓTICA
DO QUE EM MIM É PELE
ERA LÓGICA
DO MEMBRO QUE CRESCE
APONTANDO O CÉU
NA SEDE DO MEL
QUE SE DERRAMA
E SE BANHA
EM LÍQUIDO CELESTIAL
ERA A ÓTICA
DO QUE EM MIM É CARNE
ADERENTE A TODAS AS PARTES
QUE SE ESPALHA
E GRUDA
E APANHA NA CARA
ERA A ÓTICA
DO ILÓGICO QUE EXPLODE
ERÓTICO RELÓGIO
SEMPRE A DESPERTAR
GRITANDO ME FODE

DJ GEAN Q...QUEBRANDO TUDO NA FOSFOBOX

MINHAS BATERIAS ESTÃO LIGADAS NO AMPLIFICADOR

MEUS DENTES ESTÃO RANGENDO FEITO UM MOTOR

MEU CORPO SACODE FEITO UM LIQUIDIFICADOR

DJ...QUEBRA TUDO POR FAVOR


Friday, July 18, 2008

em que direção o sonho aponta?
onde foi parar o caminho?
a margem da sola do pé
o topo do pico da mente
tudo é beleza e caos
tudo é sonho sem direção
barco á deriva
o sol desenha a estrada no mar
explode no meio dos olhos
luz que acende as cores adormecidas
música celestial no círculo de fogo
brotando de dentro do peito
as ondas embalando o ritmo da vida
suavidade e fúria
perfeição e delírio
fluxo e equilíbrio
tudo vibrando por dentro da pele
essências do grito primordial
a verdade oculta
que estava incrustrada nas cavernas da insanidade
agora se dissolve diante do despertar da consciência
puxar o freio
dar a volta
acender o olhar
dissolver o lixo
plantar sementes nos jardins da pureza
sentar no alto das pedras
e balançar as pernas no ar
deixar o sol entrar pela garganta
deixar o ser voltar a respirar
dá-me luz...dá-me cor...dá-me asas...dá-me ar
vamos respirar!!
g.q.......arpoador

Wednesday, June 18, 2008

EM CENA COM OS VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA

Tuesday, June 17, 2008

POR ONDE ANDARÁ O GAROTO
COM O SORRISO DO GATO DE ALICE
TATUADO NAS COSTAS?
Seguindo com meus passos e pensamentos molhados pela madrugada, me conecto com o imprevisível que me espera a qualquer instante. Eu pergunto as horas, não por escravidão ou pressa qualquer, mas por localização no presente ausente. Ele diz que é dez reais. Eu penso em me aborrecer, mas esboço um sorriso e digo, tá caro. Ele também ri, são meia-noite e meia. Eu agradeço. Ameaçamos seguir, nos olhamos. Ele me pergunta onde eu vou. Eu digo que tô de bobeira. Ele me convida pra beber uma cerveja. Já é. Descemos a rua Augusta, cientes de nossa ousadia inusitada, tentando nos arranjar motivos ou desculpas. Desnecessário. A conexão já estava feita, e percebemos nossas razões refletidas em nossas vibrações no tempo-espaço de nossos caminhos absolutamente fluídos e espontâneos. Era sexta-feia, dia 20, de novo o tempo, mas trata-se de uma cronologia importante para o desenrolar dos fatos. Ele fez aniversário ontem, eu fiz ante-ontem. Ele trepou com um ex sem graça num pulgueiro qualquer. Eu tentei esquecer a data, enchi a cara de vinho em completa solidão, e escrevi um texto deprê para tentar sensibilizar os amigos distantes, mandei por e-mail, e recebi umas duas respostas de apoio, nada que pudesse evitar um suicídio eminente. Pronto, vamos comemorar hoje a nossa existência, entregues ao completo desconhecido. O desconhecido humano. O desconhecido tempo. O desconhecido mágico, o desconhecido espaço, o desconhecido papo vivo caótico, entre nós, os escolhidos do acaso, no breve momento que precede o vazio. Tudo novo, tudo presente, tudo imprevisível. Estávamos absolutamente abertos, para ouvir e falar, e fizemos isso sem parar. O gato de Alice sorria nas suas costas. Minha guitarra soltava labaredas que refletiam no seu olhar curioso. Ele adora guitarras. Eu vejo sorrisos de gatos invisíveis à três décadas. Ele tem duas e meia e parece um cartoon, com uma risada que lhe contorce a face e se espalha pelo corpo inteiro, cheinho, preenche as roupas com fartura, e envolve todo o espaço com gestos redondos. Eu, algo entre os desenhos de Angeli, e a animação computadorizada de Toy Story, alto, esguio, chapéu na cabeça, um midnight cowboy, ou drugstore, algo entre os anos 70 e o novo milênio, meu tempo corre. Ele só quer saber do presente. Eu concordo. Nada além da contemporaneidade de nossos passos, poderia ter nos colocado ali, sentados naquela sacada de bar, com vista para encruzilhada cheia de seres desconhecidos. Nós dois vínhamos de relacionamentos difíceis. Desabafos. Ele me sai com essa “…na vida tem coisas que se quebram, que não voltam mais…”, é incrível como o óbvio dito na hora certa, causa um impacto dentro da gente. Análises mútuas. Silêncios de cumplicidade. Olhares cortantes. Confortantes. Pronto, já somo amigos de séculos. Tem um beck aí? Tinha. Vamos descolar uns tecos? Vamos. Não pagamos as cervejas, e seguimos leves, seguros, sem culpa nenhuma, caminhado entre os seres noturnos de São Paulo. Que delícia essa chuvinha. Garoa, ele me corrige. Ok. Duas de dez no bolso. Adentramos vips no Vegas, onde eu havia feito amizade noites passadas. Eletro Rolando. Fumamos, do dele, e do haxixe que o carinha animado com as duas gatas acendeu do nosso lado pra botar banca, botou. Elas bebiam champagne, bebemos. Chapados e felizes dançamos, entregues a balada. Dividimos o banheiro, coisa de narizes. Ele fez xixi. Eu fiquei de costas, mas virei a tempo de ver ele sacudindo. Frenéticos. Cheios de acaso. Deitamos no sofá vermelho. Próximos. Íntimos de tantos minutos. Por instantes nenhuma palavra, toque, lingua, beijo, longo beijo. Mais confissões. Nosso enlouquecido desejo de ser compreendido. Pelo outro? Por nós mesmos? Falar por falar. Ouvir por ouvir. Tudo tão fútil e indispensável. Voltamos pra rua, estamos extasiados. Como somos bem sucedidos e afortunados. Estamos absolutamente certos na nossa confusão. Tantos questionamentos. Eu saio com essa “… é preciso semear as perguntas para que as respostas brotem naturalmente…”. Ele puxa um papel e uma caneta e anota. Não me parece justo, tanta coisa foi dita. Me sobraram essas lembranças vagas, porém precisas no meu alvo atingido. Nossos seres absorvidos pela mágica da madrugada. Venenosa? Inofensiva? Não interessa. Fomos arrebatados pelo inesperado. O desconhecido em cada gesto. Tão próximos, tão dentro estivemos. Nos despedimos num longo abraço. Talvez nunca mais nos veremos. Deixamos pouquísimas pistas, não buscaremos. Deixaremos para o acaso. Somos filhos do nosso tempo. Enquanto estivermos vivos, talvez nos encontremos numa hora qualquer. No momento exato. Senão, tudo seria diferente.

g.q.


Monday, June 09, 2008

quando tudo parecia concluído algo mais se fez possível, sempre haverá alternativa de contraponto a decisão prudente, inconsequente por natureza me atiro no absurdo sem noção do perigo, quem me jogou na contra-mão? quem irá responder por mim? ora bolas, sou eu, eu mesmo, e eu de novo, até me canso de ser tantas vezes eu, um furo no breu, uma lasca de visão, cegueira de ânsias descontroladas, tudo disponível para o risco, agarro a ilusão pelos cabelos, desvio o olhar do meu reflexo no espelho, excessos e ausências, tão simples encontrar a rota, bastaria um pouco de vontade própria, mas o tudo que é nada é mais forte, o tempo todo jogando com a sorte, a que saber ousar com o mínimo de sabedoria pra se ter satisfação, e eu não consigo, mas insisto na contra-mão, na inconsequência, no absurdo, na possibilidade da conquista, nada à vista, perdido e sem rumo, brinco de engolir o instante como um guerreiro tolo e destemido.

g.q.

Wednesday, June 04, 2008




I

Três artistas
desafio
fronteiras do pensamento
compartilhar imensas partículas de verdade
estímulos
criação
descobrir a verve do entendimento
crescimento
atingir
o topo do imprevisível
segurar na mão do invisível
estar junto
instante pleno
delírio que aponta o alvo
dispara
o tempo todo é o momento presente
a arte de estar vivo
a necessidade
de recriar o real
estar junto é uma benção
a liberdade
uma canção
o som do sentimento
carícias de tempestade




II


ato
existir fora de
minha mão canta o outro
estar longe de si
montar barreiras no campo
abrir as pernas
agir
meu rosto vento
algo que se perde
assisto espelho
rastro de pelo no ar
encontro
você


111

você quer dizer o tempo exato
onde acontece todo atrito.
Estamos antes da faísca e depois da facada
antes do bebê fora e depois
na buceta

sobrevivemos na tentativa de aceitar impossibilidades
ninguém no corpo de ninguém
tudo um sinistro organismo que nao se reconhece

cortar cabelo
roer unha
abrir ferida
aparar pedaços..........................

tudo isso
o combustível da implicância inevitável de estar vivo




Gean Queiroz, Ericsson Pires e Botika

Tuesday, June 03, 2008

O que vai ser de nós dois?

me encara o antes

me pergunta o agora

o que vem no depois

o antes, o agora e o depois

tudo junto nesse instante

em que nada é como deveria ser

e o que é já não sei

o que foi ainda grita de longe

e o que virá a ser ninguém sabe

a espera pelo que talvez cairá do céu

não conforta em nada a alma

e o tentar correr atrás

faz tudo parecer tarde demais

passado, presente e futuro

tudo junto no liquidificador do coração

decidir a vida com as mãos atadas

um nó na garganta

e um punhal apontado pro peito

buscar as respostas jogadas no lixo

remexer os cantos escuros

e só enxergar a luz bem distante

quase inalcançável

ficar aqui martelando sentimentos

na escuridão do pensamento

que não encontra saída

de olhos abertos não te vejo

mas quando os fecho você está por todo lado

de que serve amar sem tocar?

de que serve sofrer sem saber

se vale a pena esperar?

construímos castelos no invisível

plantamos sementes demais

as raízes se espalham por dentro de nós

sinto meu corpo todo explodir

e de nada adianta fugir

ou cuspir pra fora essa angústia

a que se entender o organismo

da incapacidade de se decidir o que sentir

pois tudo segue crescendo continuamente

engasgando a gente de tanta saudade

mastigando os órgãos do corpo sem piedade

não existe freio, só existe o tempo

uma espera estúpida e frustrante

uma porrada na cara do amor

um soco no estômago de nossos sonhos

foi isso que a gente plantou?

Que estrada é essa que a gente pegou?

Engolir a distância a seco

secar as lágrimas

deixar escorrer todo desejo pelo ralo

tudo escapando por entre os dedos

o antes embriaga

o agora cega

e o depois...

só pergunta sem parar

o que vai ser de nós dois?


REFLETINDO BASTANTE
A RESPEITO DE COISAS INÚTEIS
É QUE PODEMOS SORRIR DE NÓS MESMOS
PARA EMERGIR DESTA DIMENSÃO SOTERRADA
E LEVITAR SOBRE OS POUCOS SENTIDOS

Monday, June 02, 2008

as vezes
quantas vezes
eu me canso de mim mesmo
as vezes duram meses
as vezes anos
muitos anos duram esses
meses quase tantos
que as vezes
eu me esqueço
de mim mesmo
em algum canto
e quando eu vejo
eu me espanto
do meu esquecimento
naquele momento
e as vezes eu penso
que eu entendo
aí eu me canso
do meu pensamento
as vezes duram dias
as vezes semanas
muitas semanas duram esses dias quase tantos
que as vezes eu me levanto
e me esqueço que eu me canso
de ficar esquecido num canto
aí eu me lanço
fora do tempo
levado por um vento
que as vezes é lembrança
outras esquecimento
as vezes duram alguns segundos
poucos esses
que me fazem voar
pelo espaço
as vezes
quantas vezes
eu vou fundo
dentro de mim
fora do mundo.

g.q.

Sunday, June 01, 2008


o gosto do vinho
o som do jazz
o mundo aos nossos pés
tudo ao alcance das mãos
idéias rolando pelo chão
carências se dissolvem sob a chuva
a gente rege a tempestade
direciona cada raio
de olhar
magnetiza a existência
eterniza o instante em versos
o imprevisível fluir de cada gesto
a fumaça sumindo no ar
a cadeira suspensa que gira
o som do pensamento
inevitável deixar-se ir
corredeiras da alma
simplesmente sentir
sem medo de errar o alvo
gosto dessa calma
de estar aqui
com fome de tudo
e a certeza de poder esticar o braço
e alcançar a fonte
entregar o ouro
e fincar raízes no impossível
quando acabar a gravidade
vamos planatar sementes
na imensidão

gean queiroz e beatriz provasi
domingo chuvoso, no inverno do rio de nós dois

Saturday, May 31, 2008

de onde vem o que não se espera
mas que está implícito no imprevisível
que surge a qualquer instante?
onde está o agora?
no que se baseia o desejo?

o óbvio é a consequência da ansiedade
que devora a própria fome

a ânsia de viver
assassina a própria vida.

g.q.
Gean Queiroz e Tico Santa Cruz ensaiando um novo espetáculo
VERSOS DA MEIA-NOITE
MATINÉE POÉTICA
FOSFOBOX - 4 ANOS

Kyvia Rodrigues
Cairo Trindade
Denisis Trindade e Bia Provasi
VERSOS DA MEIA-NOITE
MATINÉE POÉTICA
FOSFOBOX - 4 ANOS

karla Sabah
Jam Poética
Marcela Giannini
VERSOS DA MEIA-NOITE
MATINÉE POÉTICA
FOSFOBOX - 4 ANOS
Gean Queiroz e Carluxo
Beatriz Provasi
G.Q.
Denisis Trindade
estou ferido de estrelas
e me sangram raios de luz pelos olhos
escorro pra dentro da escuridão
acendendo brilhos pelas montanhas
feito um vagalume bêbado
inconsequente espalho indecisões
indefinível meu vagar no espelho
reflito o caos na face
devoro enigmas pela orelha
despregadas de mim estão minhas asas
meu vôo tem vontade própria
alheio a todos os meus abismos
desapareço em precipício

g.q.

Friday, May 30, 2008


voluntários da pátria
no centro de psiquiatria clarice lispector
palavra e atitude.....gean e bia

que bicho me deu?

eu queria ter a liberdade de um bicho preguiça subindo na árvore com o filhote agarrado no colo
queria essa liberdade agarrada, aconchegada, lenta e macia
não quero medir liberdade em tamanho das asas, altitude do vôo, no canto triste de um pássaro solitário que risca o horizonte
não quero a liberdade assim ao longe
quero antes a liberdade dos macacos catando piolhos nos outros
a liberdade dos vira-latas que acasalam nas ruas e cheiram-se os rabos despreocupados
eu quero a liberdade dos pombos que se reproduzem nas praças não se sabe como (ninguém jamais viu filhote de pombo!)
eu quero a liberdade dos coletivos dos bichos
colméias, cardumes, manadas
juntos por instinto de sobrevivência e mais nada
a liberdade não é sozinha
a liberdade é
o ser livre não se pensa livre
é
e eu, que tanto me penso livre
e não sou
quero voltar ao meu estado bicho
meu grito é o cio de um gato selvagem
o uivo de um lobo que sempre se cruza com outro
como o canto de um galo
uns que tecem noites
outros, as manhãs
e o cio do gato que tece o desejo por outro gato
gatos também choram?
sei que até os leões sangram, que todo animal tem medo
mas bicho reage, não reza
bicho até foge
só não fica parado
só bicho-homem se deixa ser massacrado
animal racional?
eu não, eu quero a irracionalidade, o instinto, a mais pura liberdade
eu quero o veneno da cobra pra me defender
enquanto os homens se envenenam a si mesmos e vagam mortos de olhos abertos
eu não me deixo tão fácil abater
antes de tudo,
eu quero viver


beatriz provasi


VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA
CIRCUITO DE MÚSICA, POESIA E REFLEXÕES COLETIVAS



www.voluntariosdapatria.org