Tuesday, October 16, 2007

SOB O CÉU DE LORCA

Para encontrar um pouco de calor neste dia em que os vidros da janela me amanheceram salpicados de diamantes, me agarrei aos poemas de García Lorca, espalhei minha infância pelo apartamento, e caminhei descalc,o no quintal de minha casa sentindo o cheiro de mangas e cajus, mas o chão estava gelado e tive que colocar minha meias, e a música de tom waits me falava de uma garota triste e solitária com aquela voz rouca de álcool e morte, e escrevo tomando meu yogurt com maçãs e peras que eu mesmo colhi em nosso jardim, e nada disso me é familiar, e nada disso tem o cheiro de minha infância,exceto esse gosto de solidão e melancolia que sempre esteve comigo, as vezes até no dia mais ensolarado, quando subia na casa da árvore e ficava por lá deitado encolhido esperando que algum coleguinha da vizinhança viesse me aquecer com fantasias cheias de calor, mas eles quase nunca vinham, e ficava eu, e a sombra das nuvens que aparecíam deixando o quintal escuro e cheio de fantasmas e com os gritos de meu pai soando altos e constantes, e a eternidade vulnerável desta fotografia me aproxima ainda mais de meu companheiro Lorca, nós dois carregamos mais fantasmas que qualquer sobrevivente de qualquer guerra, pois nossa batalha arrasta multidões de sofredores na alma que passaram por nossas vidas num mínimo instante e nos sugaram palavras, e sorrisos e nossa generosidade de abrir-se tão rápido e espalhar segredos e respostas para qualquer desconhecido, e caminhar lado a lado descobrindo belezas ocultas, apontando mistérios e abrindo horizontes, como este que abre-se agora me invadindo com um sol que tenta me tirar daqui nestes raros momentos de ternura em minha escrita companheira de todas as tristezas, logo agora que a chuva me trazia tantas inspirações, não quero sair, e vou molhar os vidros da janela com minhas lágrimas, e manchar de sangue minhas lembranças de frutas apodrecidas pelo quintal, pois aqui como em qualquer lugar, os dias seguem cheios de fantasmas, e eles são tão velhos, atravessam todos os séculos assassinando poetas indefesos, tanto como os daqui que se atiraram em mares congelados do alto das torres dos castelos, como os que encontrei em Barcelona, buscando por Lorca pelas esquinas sem nunca encontrar nem resquícios de sua poesia, e assistindo o desfile dos vagabundos e prostitutas e bêbados por todas as ruas por onde um dia caminharam artistas geniais que escreveram coisas incríveis e pintaram e ergueram prédios alheios a este futuro de fome e gente desesperançada, Gaudí, suas sacadas estão infestadas de turistas que não compartilham teus sonhos de tanta beleza construída de pedras e vento, Dalí, teus peixes voadores e criaturas fantásticas estão trancados em museus que cheiram a velharias, enquanto o lixo se espalha e os mendigos pedem esmolas do lado de fora, Lorca, os artistas de La Rambla estão mudos, são estátuas que movem-se por uma mísera moeda que não desperta uma única palavra de misericórdia que seja, e são tão poucas migalhas, porque estão todos tão pobres, porque foram assaltados por um dos milhões de ratos que espalham-se por esta Barcelona moribunda, Buñel, as formigas invadiram os cerébros e os porões dos velhos cinemas destruindo qualquer vestígio de criatividade dos celulóides, e nem todo surrealismo do mundo poderá nos salvar desta verdade que arde sob este céu onde um dia Lorca foi assassinado por desprezíveis fascistas, será que eles assassinaram todos os poetas? Sentei num café qualquer assistindo o desfile dos travestis, esperando que Almodóvar apareça para reacender as cores e os sentidos e a genialidade desta cidade que já foi um dia.

Wednesday, October 10, 2007


URGÊNCIA


Viver é urgente.
Não temos asas, mas é preciso permitir-se o vôo,
montados sobre o tempo, este sim,
que passa feito um pássaro.
É preciso estar atento, se não, perde-se de vista tão rápido,
é natural, somos todos parte do mesmo organismo, o mesmo ciclo e planos superiores,
alheios que estamos a tudo nos entregamos,
e atiramos o olhar na distância, esta sim,
infinita, intocável.
Até que nossos passos desliguem-se de gravidades
e caminhem sobre as nuvens, que passam
desenhando sonhos. Nuvens são urgentes. Sonhos são pássaros, tão rápidos.
É preciso estar acordado, se não, a vista não alcança a distância,
é natural, somos todos limitados seres humanos,
paralisados ficamos de cansados que estamos,
alheios a velocidade de nossos desejos,
intântaneos são esses, deliciosos de tantas descobertas, tudo o que buscamos,
na paisagem,
que mostra-se feito mágica, cegos não estamos.
E quando tudo acende-se de tanto sol,
o pensamento atira-se no horizonte, e o horizonte é lindo, é aberto,
é perfeito de tantas não certezas, e tudo vem
tão imenso de tantas possibilidades,
que não precisamos esticar um dedo, é só deixar-se ir.
Ir é vital. Imóveis não podemos estar.
Certezas são tristezas.
O horizonte é alcançável.
Nuvens são instântaneas.
O tempo passa montado num pássaro.
É preciso estar atento.

O olhar agarra a distância na velocidade do instante em que a paisagem se abre
no horizonte entre as nuvens que o pássaro atravessa com o tempo montado nas costas.


g-ã

Tuesday, October 09, 2007

VIDA PERFEITA NÃO É MOLEZA NÃO

O verão acabou, e pronto, aqui não tem essa história de verão eterno, acaba e pronto, com data marcada e tudo, não adianta chorar nem lamentar, ou faz as malas e se manda pruma ilha no caribe, ou vai pegar uns resquícios de sol num balneariozinho aqui mesmo pela Grécia ou na Espanha, ou volta pro Rio baby, porque sim se pode falar em verão eterno. Agora frio de rachar, e não adianta se iludir com esse solzinho e sair de camiseta pra escrever nos jardins do castelo, que vai voltar pra casa todo congelado e sentar aqui confortavelmente tomando um cházinho e escrevendo no laptop vendo o céu azul pela janela do apartamento quentinho, calor agora é saudade, é distância, é nostalgia, é passado, e o verão passou tão rápido que quase ninguém viu, aliás o verão não passou, porque o verão não veio, e agora fica todo mundo lamentando que o verão foi fraco, e ninguém presta atenc,ão em como as árvores estão lindas com as folhas todas vermelhas e amarelas, mas talvez seja melhor assim, pelo menos para esses suecos masoquistas e sofredores, como sofre este povo, se o verão tivesse sido bom, sobre o que estaríam eles reclamando agora? Não teria assunto, melhor assim, ficam todos mais animados reclamando da vida pelas esquinas com seus casacos e luvas e gorros e cachecóis que acabaram de sair do ármario, comprados da colec,ão de inverno de não sei quantos anos átras, afinal inverno é tudo igual meu filho, frio e cinza, não importa, mas calma, ainda estamos no outono, que chegou com data marcada como disse, é tempo de reclamar do verão que foi uma merda, e se você não trabalhou feito um condenado como o espertinho do Hank faz a anos, pra economizar um dinheirinho e se mandar quando a coisa esfriar de verdade, vai amargar um inverno destruidor e alguns longos meses sem ver o sol nem o céu, não é mole não, ô povinho sofredor esse, e sofrimento aqui na Suécia é coisa séria, seríssima, com esse verão fuleiro desse ano então, não vai demorar muito pro povo comec,ar a se matar, e alguns deles vão matar a famíla inteira antes de estourar os miolos, é , sofrimento aqui não é de fome nem de falta de emprego, afinal você ganha salário até se estiver desempregado, também não tem violência nem niguém se agredindo por aí, no máximo umas quebradeiras de garrafas pelas ruas depois das duas da manhã quando tudo fecha e você é obrigado a voltar pra casa, afinal qualquer ser humano tem o direito de se revoltar com uma festa que acaba as duas da manhã, aqui também não tem desigualdade social, e qualquer faixineira pode ter sua lancha _que ficou estacionada esse verão_ e qualquer caixa de supermercado pode ter seu MG conversível e sua casa de verão na beira do lago e passar seis meses no Brasil coc,ando o saco, como é o caso do hank, então, porque sofre tanto esse povo meu Deus? Por que o índice de suicídio aumenta a cada ano, se tudo aqui funciona tão perfeitamente? Talvez aqui esteja a chave do mistério, o ser humano não foi feito para ser assim tão perfeito, é preciso permitir-se algumas intransigências e descontroles e loucuras pra que a engrenagem funcione, é preciso algum esforc,o pra que a coisa ande, alguns obstáculos pra que se valorize a conquista. Que merda é essa que eu estou escrevendo? Esforc,o? Obstáculo? Quero mais é catar meus morangos nos lindos campos silvestres de manhãzinha e reclamar das dores nas costas pro meu amor fazer uma massagenzinha gostosa quando eu chegar em casa, quero mais é trabalhar duas vezes por semana no supermercado e ganhar o dobro do que eu ganharia trabalhando o mês inteiro na Sendas no Brasil, mas sem esquecer de me sentir um pouco ridículo com aquele uniforme de mecânico de filme pornô, quero mais é pegar um avião quase de grac,a e passar uns dias batendo perna em Barcelona, mesmo que a coisa parec,a estar mais preta do que no Rio de Janeiro, com todo mundo sendo assaltado em todas as esquinas, viu, vida fácil é duríssima, e com esse verãozinho então. O buraco aqui é mais em cima, é o oco que se produz na mente, o vazio da ausência de sentimentos verdadeiros, aqui o que pega é o tédio, o praguimático, o cálculo, o artificial, o sistemático, é tudo tão friamente calculado, que qualquer desajuste parece o fim do mundo, e dá-lhe gente se jogando dos prédios, e tomando veneno, acendendo o gás, se jogando na frente do metrô, porque frio demais, e eles foram obrigados a ficar trancados dentro de casa com a família que eles odeiam, e agora todos estão olhando torto pra você, porque você não procura emprego desde que você quebrou o dedo a dois anos átras e vive as custas da pensão que o governo paga pra você não fazer nada, oh não, tem alguma coisa errada comigo, vou me matar, pow. A outra quer viajar mas não tem com quem deixar o cachorro que está muito velho, e fazem anos que ela está esperando o cachorro morrer, e agora é ela que quer morrer, pegou um acorda, amarrou no celeiro, era, ficou o cachorro moribundo lambendo os pés dela. O rapaz sensível, consegue se satisfazer no inferninho gay escuro em Amsterdã que ele visita regularmente, e a família tenta jogar qualquer loirinha vagabunda pra cima dele o tempo inteiro, ninguém entende porque ele prefere estar solteiro, e aquela moc,a tão linda e tão perfeita agora está interessadíssima, oh não, se jogou do oitavo andar, rapaz sensível não aguentou o frio. Por vai, eu, também tirei todos os meus acessórios do ármario, depois dessa última caminhada até o castelo de camiseta, tomei meu cházinho quente e vi o pôr-do-sol pela janela aquecido aqui escrevendo e agora vou acender todas as velas e preparar uma comidinha pro meu maridinho que vai chegar cansado e manhoso do trabalho no supermercado, e depois vamos assistir um filminho grudados comendo pipoca debaixo do hedredom, e fazer amor com a lua linda que está nascendo iluminando o jardim, bom, isso seria o ideal aqui nesta perfeita vidinha sueca, mas talvez eu continue aqui sentado sem fazer nada, e o hank chegue estressado e com fome e fique mais irritado ainda quando ver a louc,a toda suja, e talvez esteja passando um filme do Bergman desses bem deprê, e talvez meu querido amor queira dormir sozinho hoje, e eu resolva sair pra caminhar e congelar a alma com essa lua tão perfeita, e talvez eu me jogue nessas águas congeladas e saia nadando pra tentar chegar até o Rio, onde felizmente quase tudo está desordenado e absolutamente ninguém é perfeito, e o sol vai nascer rachando no arpoador de qualquer maneira, e pronto.




Sunday, September 09, 2007

NOSSA FESTA

EU QUERO ENGOLIR O SILÊNCIO
E CUSPIR MINHA FÚRIA ELETRO PUNK NA CARA DAS PESSOAS
VOCÊ ME TRAZ FLORES E EU TE DOU MEU GRITO
VOCÊ NÃO QUER DANC,AR COMIGO MAS EU INSISTO
VOCÊ ME BEIJA EU TE VOMITO
EU VIRO O MUNDO DE CABEC,A PRA BAIXO
SÓ PRA VER TUDO DE OUTRO ÂNGULO
ESPALHO TUDO QUE PRECISO A MINHA VOLTA
ASSIM FICA TUDO MAIS FÁCIL
É SÓ ESTICAR O BRAC,O E AGARRAR TEU SEXO
ASSIM NÃO ME PERCO E PODEMOS SUBIR JUNTOS PELAS PAREDES
FEITO OS RECORTES DAS BANDAS QUE AMAMOS
AS VELAS ESTÃO ACESAS E AS EXPECTATIVAS E OS ANSEIOS DE PRAZER
OS INVEJOSOS E EGOÍSTAS TAMBÉM VIERAM
VAMOS FAZÊ-LOS ESPERAR HORAS NO FRIO LÁ FORA
E DEPOIS QUE ENTRAREM VAMOS ATIRÁ-LOS PELA JANELA
ELES NÃO MERECEM NOSSA MÚSICA CELESTIAL DE JUVENTUDE INCANDESCENTE
ELES NÃO SABEM DANC,AR OUTRA COISA QUE NÃO SEJA
ESSE BATUQUE AFRICANO QUE ESTÁ INCRUSTADO NOS SEUS OSSOS
AFRICANO É MEU CARALHO MEU AMOR
QUE EU BATUCO COM MILHÕES DE SOCADAS NO ÂNUS DO FUTURO
ENTÃO ME CHUPA COM TODOS OS LÁBIOS E TODOS OS SEUS DENTES EUROPEUS
QUE A ÀFRICA TÁ PERTO E A BAHIA É LOGO ALI
E NOSSA INTELIGÊNCIA VAI MAIS ALÉM DO NOSSO PRÓPRIO UMBIGO
EU QUERO TEU SORRISO REPLETO DE DESCOBERTAS E AGRADECIMENTOS
EU QUERO TUA CURIOSIDADE DESCONTROLADA E TUAS PALAVRAS DESCONEXAS
EU QUERO TEU RITMO INSANO DE MOVER-SE LIVRE PELA VIDA
ESPALHANDO AMORES PELOS CONTINENTES
JOGANDO FILHOS NO MUNDO COMO QUEM FAZ UM NOVO AMIGO
ESTOU TÃO EXCITADO QUE QUERO QUE A VIZINHANC,A TODA ME ESCUTE
QUERO FAZER UMA CIRANDA ATÉ QUE NOSSOS CORPOS BRILHEM TANTO
E ESPALHEM NOSSA LUZ INEBRIANTE PELO MUNDO INTEIRO
E TODAS AS CRIATURAS REPLETAS DE CONFUSAS IGNORÂNCIAS
IRAM RENDER-SE A NOSSA INFÂMIA PUREZA DIONISÍACA
OU ENTÃO CORRERAM PARA BEM LONGE FORA DO MUNDO E DO NOSSO OLHAR
DE NOSSA GENTILEZA DE ABRIRMOS AS PORTAS PARA QUEM NOS BRINDE SORRISOS
E NADA MAIS, DANC,AREMOS UM TANGO QUE ATRAVESSARÁ A ETERNIDADE
PONHO MILHÕES DE DISFARCES E NOSSO OLHAR NÃO SE PERDE
ESSE É O NOSSO MUNDO, TEMOS ÁLCCOL, TEMOS ERVAS
TEMOS GUITARRAS CORTANDES NA GARGANTA
E BATIDAS ELETÔNICAS NO CORAC,ÃO
TEMOS OS SENTIDOS DESPERTOS E OS OLHARES ACESOS
TEMOS MÚSICA DIVINA DOS DEMÔNIOS EVOLUÍDOS
QUE ALCANC,ARAM O CÉU COM SUA OUSADIA DE NÃO ACOMODAR-SE NUNCA
TEMOS INFINITOS TAMBORES SOANDO QUANDO NOS ABRAC,AMOS
A FESTA SOMOS NÓS, QUANDO ESTAMOS JUNTOS
DIVINAMENTE PUROS E SUJOS E SINCEROS E PERVERTIDOS
PORQUE DO CAOS NASCERÁ O NOSSO AMOR.


G.Ã KEI-R-OZ


Monday, August 27, 2007

TRIO DE LÍNGUA AFIADÍSSIMA

BAYARD TONNELI

IGOR COTRIM

GEAN QUEIROZ

Tuesday, August 14, 2007


UMA VIAGEM NO TEMPO
ÉPOCA / IDADE MÉDIA
DESTINO / UMA DISTANTE ILHA VICKING
A MAIOR AULA PRÁTICA DE HISTÓRIA DA MINHA VIDA


Esse verãozinho chuvoso de merda não deu trégua naquela manhã, mas nada poderia diminuir nossa alegria de pegar um barco pra ilha mais famosa da Suécia, Gotland, quatro dias na ilha da fantasia totalmente equipados, vai ser o máximo, é a ilha onde morava o genial Ingmar Bergman que morreu esta semana, se Bergman depois de fazer tantos filmes incríveis veio passar o fim de seus dias por aqui, é porque o lugar realmente deve ser especial, e agora estamos eu e meu amor neste navio, e ele está me levando pra uma ilha bela e distante, e eu vou, mesmo que fosse um deserto, mesmo que fosse o inferno, e assisto o filme ”A rainha” totalmente confortável no meu luxuoso assento com vista para o oceano, o que aumenta meu sentimento de nobreza, me sinto a própria princesa Diana no seu momento de glamour merecido longe dos papparazzis, que mulher surreal, nos poucos momentos em que ela aparece no filme quase consegue roubar a cena da fantástica Helen Mirren que interpreta a rainha, não vou descer deste navio sem dar uma bela cagada para deixar qualquer merda para trás. Chegamos nesta que é uma ilha de verão e não tem nenhuma mulher dançando ula-ula oferecendo colares havaianos, está chovendo e nós ficamos pensando que acampar talvez não seja uma boa idéia, quer saber, é aquela história quem tá na chuva blá blá blá, fomos para o camping nas bicicletas, é, viemos de bicicleta, primeiro no ônibus, depois no navio e agora pedalando na ilha do Bergman, cruzamos pelo centro e já deu pra perceber um pouco do que o lugar tem para oferecer, garantindo assim o ânimo pra montar barraca debaixo de chuva, beleza tá fraquinha, o camping é lindo de frente pro mar, show…….
Daqui pra frente um aviso, se você é uma daquelas pessoas que se incomoda com o prazer alheio, quando alguém conta uma conquista você duvida, vê um folião mais animado no carnaval logo conclui que ele deve estar bêbado e drogado, quando alguém está sorrindo é porque está querendo aparecer, se você acha que o paraíso e a plena felicidade não existem, então pode parar de ler por aqui mesmo, porque as linhas a seguir estão repletas de uma satisfação tão abundante que talvez nem Mick Jagger tenha sonhado, todos os acontecimentos apartir deste momento e em todos os segundos dos quatro dias seguintes são de uma magia inebriante, coisa para acordar a criança no peito e fazer um homem chorar por dentro a cada passo, a cada nova surpresa, um delírio cinematográfico tão inédito, que eu só posso buscar nas minhas referências algo entre Robin Hood, Peter Pan, O senhor dos anéis, Asterix e Obelix e todos aqueles filmes com piratas, castelos e cavaleiros tentando salvar a princesa, só que aqui não tem batalha nem dragão nem perigo algum nem indíce mínimo de stress, tudo está friamente preservado de não sei quantos milhões de anos atrás e batido no liquidificador com o que há de mais moderno, o antigo e a sofisticação, o rústico e o conforto, minhas primeiras impressões me levaram a lugares como Paraty, Santa Teresa, Ilha Grande, Búzios, mas aí eu posso jogar tudo isso junto neste cocktail misturado com uns anabolizantes poderosos, umas ervas finas e uns cogumelos potentes, e não adianta você falar ”_Haxixe bom esse que você levou hein Gean_”, não, não foi o haxixe, não foi o amor que trago dentro de mim e que senta ao meu lado e admira a paisagem comigo com lágrimas nos olhos, não foi isso, foi o lugar, então sem economizar nos superlativos, vou usar quase todos que conheço numa só frase e sem me preocupar com gramática vou repeti-los incansavelmente até o final deste texto
foi o lugar, absolutamente único, completamente fantástico, totalmente mágico, deslumbrantemente belo, incrivelmente imprevisível…eu avisei pros céticos pararem lá em cima, mas se você veio até aqui e quer seguir junto comigo, é porque assim como eu, você sabe que a vida nos reserva surpresas e prazeres que estão muito além de nossas expectativas e que todos nós merecemos ser surpeendidos pelo novo e que se um amigo está feliz e compartilhando isso com a gente, seja de que forma fôr, isso acende a chama da felicidade dentro da nós, e então seguimos todos juntos, cada um com suas conquistas ao redor do mundo que é tão grande tão surpreendente tão misterioso, e quando realmente sentimos essa conexão dentro da gente, a comunicação chega a tornar-se telepática, e ficamos felizes e pensamos em alguém distante sem que este alguém nos conte nada, por isso meus amigos sintam-se felizes comigo, pois estou transbordando como talvez nunca na vida. De uma só vez entendi tudo o que os suecos são, porque, como, o que eles pensam e de onde vem isso tudo, porra, que loucura que é a cultura de um povo, a história constrói a vida de uma forma fantástica. Hank é um vicking fudidamente autêntico e visceral, ele sabia tudo, sabia que a previsão do tempo garantiu sol absoluto nos próximos dias, sabia que iríamos chegar em plena abertura da semana medieval, o maior encontro deste tipo na Escandinávia, comprou barraca nova, trouxe o edredom, fogãozinho, as batatas, o presunto, o atum, as bicicletas, as cervejas, o vinho e a latinha de 51 contrabandeada do Brasil, tá bom o haxixe fui eu quem trouxe, mas eu sempre entro com essa parte, ele sabia tudo e só me deu a dica de que era um dos lugares mais bonitos da Suécia, tá bom, a Suécia é linda, Estocolmo foi o máximo que eu havia visto até agora, mas essa ilha é uma coisa fora da realidade, no que se refere a magia, ao antigo, a cultura sueca, a história que está totalmente viva nas suas ruelas de pedras e túneis e ruínas e muralhas e castelos, e ao mesmo tempo é mega realidade, no que se refere ao glamour, a estrutura do prazer montada em torno desta cultura tão autêntica, tudo isso de frente pro mar com kilômetros de praia e sol gritando. Cada nova esquina uma nova descoberta, cada praça, cada café, cada barzinho, e ainda curtimos um rock’n’roll num suterrâneo ali, e dançamos um eletro de primeira mais adiante, tudo lindo demais, porém ainda não tinha aparecido o sol até então e chovia de leve.
Mas na manhã seguinte, acordei botei a cara pra fora da barraca e o céu era de um azul cintilante, olhei em volta e pensei que estava em não sei que século atrás, eram vickings, magos, duendes, piratas, membros da côrte, plebeus, arqueiros, esfreguei os olhos mas eles continuavam lá, fui caminhando me misturando e vi que não era um ou outro que estava assim caracterizadoS, eram quase todos, famílias inteiras, esquentando o café no fogo, fazendo pão, sei lá, depois fui observando os contrastes, vi uma princesa falando no celular, um grupo de guerreiros posando pra foto, uns piratas ouvindo heavy metal e vários deles cheios de piercings e tatuagens, mas os trajes, totalmente fantásticos, não era fantasia, era de verdade, todos estão ali para celebrar e experimentar por alguns dias a forma como viviam seus antepassados. Os suecos definitivamente sabem acampar, eles trazem tudo e um pouco mais, montam uma casa inteira debaixo de uma árvore, alguns em seus trailers e outros em barracas de tudo quanto é jeito. Passeamos pela cidade que é um enorme museu vivo, tudo, cada cantinho, cada janela, cada pedra conta uma história, e dá-lhe vickings passando pra lá e pra cá, na feira onde era o centro do encontro de todos, acho que só tinha eu, o Hank e mais alguns gringos vestidos como em nosso século, era um desfile atemporal dos mais diferentes tipos históricos, e também as mais autênticas demonstrações do estilo de vida da idade média, as vezes me parecia que eu estava dentro de um desenho animado dos Flintstones, e era tudo tão de verdade, alguns exibiam longas barbas, as mulheres com cabelos até a cintura, crianças travando duelos de espadas, final da tarde armamos nossa cozinha na beira do mar, e era possível ver ao longo de toda a orla vários grupos reunidos fazendo a mesma coisa, cozinhando em fogueiras ou em fogãozinhos estilizados como o nosso, e admirando o pôr-do-sol, depois de três meses sem ver o sol direito, contemplar um entardecer espetaculoso como aquele numa ilha tão incrível realmente me deixou abobalhado de emoção, e comemos bebendo vinho branco, de longe uma gaita de fole soava para abençoar o dia, haxixe na mente, estávamos fudidos na alma. No domingo montamos nossas bicicletas e como bravos guerreiros e pegamos a estrada para dar um rolé pela ilha e ir até a principal praia de Gotland, foi mais de uma hora de pedalada, e eu tratei de avisar hank que ou a gente conseguia uma carona pra voltar ou eu ía dormir por lá mesmo, e que praia meus amigos, não perdia em nada pruma Ipanema dessas da vida, tanto pela vista quanto pela multidão que disputava o metro quadrado de areia, curtimos por lá o dia inteiro como duas crianças que estavam no mar pela primeira vez, ai ai, o que um bom dia de praia é capaz de fazer no astral de uma pessoa, por lá não tinha trajes de banho medievais, mas era um show de gente linda de deixar tonto, e na volta bicicleta no bagajeiro do ônibus, relax. A noite, remexi o guarda-roupa de nossa barraca para buscar o que de mais medieval eu poderia encontar e montei um figurino meio bobo da corte para poder me misturar a massa com mais estilo, fomos para o Clematis, o lugar mais tradicional da época dos vickings que tem na área, foi surreal, uma caverna à luz de velas totalmente lotada da fauna histórica, onde se pode beber vinho direto do barril numas canecas de barro, a certa altura começou a jam session medieval, o lugar foi ficando quente, os ânimos excitadíssimos, as pessoas batendo e dançando por cima das mesas, os músicos com seus instrumentos exóticos não paravam de chegar e tocar, foi algo inédito e fortíssimo na minha vasta experiência festiva, para encerrar com chave de ouro esses dias tão absurdamente surpreendentes.

Foi difícil deixar a ilha na segunda-feira depois de prolongar o passeio mais um dia, a vontade real nossa era ficar por ali naquela viagem no tempo o verão inteiro, todo mundo se sente um pouco assim quando viaja pra um lugar tão especial, mas eu tenho um problema seríssimo, porque eu realmente não vou embora, eu fico e pronto, se hank não tivesse me arrastado eu tinha ficado, e ainda sofro de um problema maior de pós-trip, entro em depressão profunda, quero voltar, e não consigo parar de pensar nisso, quando o navio começou a se afastar de Gotland senti como se uma espada vicking estivesse furando meu peito, e chorei ouvindo ”No cars go” do Arcade Fire no freestyle, essa que foi a música oficial de toda a viagem, um hino para enfrentar qualquer batalha e sair galopando pelos ares conquistando terras distantes. Mas quando chegamos de volta a Kalmar fez um sol tão fantástico, as praias cheias de gente, tudo tão bonito, deu pra amenizar o sofrimento de pensar em quando voltarei para aquele lugar tão mágico, foi a maior aula prática de história que já tive, e agora posso até entender um pouco mais como os suecos ficão histéricos quando bebem, é o vicking que eles trazem dentro que desperta, e eu, esse amazônida carioca também vou carregar minha porção medieval junto comigo muita mais viva e presente apartir de agora.

g.q.

Thursday, August 02, 2007

DISTÂNCIA PESA

AS DISTÂNCIAS SÃO PESADAS COMO UM MONSTRO
QUE ANDA DESPERCEBIDO FAZENDO A LUA TREMER COM SUAS PEGADAS.

A LUA CHEIA ACENDE O PAVIO DA MELANCOLIA
QUE É CURTO COMO UM SUSPIRO E RÁPIDO COMO UMA LÁGRIMA
QUE SE APAGA NUMA NUVEM QUE O VENTO NÃO LEVA.

O VENTO FRIO É CORTANTE E FERINO COMO LÂMINA
QUE REPARTE A NOITE EM PEQUENAS FATIAS DE SILÊNCIO FULMINANTE.

O SILÊNCIO RASGA A ATMOSFERA E PENETRA O CORPO
PARALISANDO OS SENTIDOS E CALANDO A VONTADE CEGA.

A VONTADE É UMA VELHA INVÁLIDA
QUE ASSISTE A VIDA PASSAR SENTADA NA JANELA.

DISTÂNCIA PESA COMO A LUA, COMO UM SUSPIRO, COMO LÁGRIMA,
COMO NUVEM, COMO O VENTO, COMO A NOITE,
COMO O SILÊNCIO.

DISTÂNCIA PESA COMO LEMBRANC,A
COISA INVISÍVEL QUE O OLHAR NÃO ALCANC,A.

G.Q.

Tuesday, July 31, 2007

SAMBA DO GRINGO AGUADO NO BATUQUE DESAFINADO
Lá fomos nós pro tal do karnaval de Landskröna, é karnaval com k mesmo, já comec,ou por aí né, entrei na internet e vi que na programc,ão ía ter samba, salsa e bossa nova, beleza, vamo matar a saudade um pouco do swing brazuca latino. Aonde eu fui amarrar meu trailer? Furada atrás de furada, chegando lá botaram a gente nos cafundós de uma esquininha qualquer de frente pra uma parede com um porto lindo atrás com banquinhos de prac,a e tudo, burrice da braba, e dessa vez não íamos usar o trailer e tivemos que tirar toda a parafernália, e põe parafernália nisso meu amigo, para dentro de uma barraca ordinária, a tal de frente pra parede e de costas pra baía, não tinha água pra lavar as paradas e energia suficiente que a gente precisava, cada vez que ligava uma coisa desligava outra, então o primeiro dia foi todo atrás de resolver os problemas, e pra completar a bandinha da terceira idade que tocava na nossa área não animava nem o mais endiabrado dos fuliões, broxei legal, chegamos no Hotel Chaplin e a cama era de casal, puta que o pariu Uirá tá querendo me comer, Uirá é o bofão filho de Ana Emília, a poderosa feiticeira baiana, é um bofe daqueles digamos assim ”intocável”, macho de doer, porra, dormir na mesma cama com um marmanjo desses me deixa extremamente nervoso, meus hôrmonios pipocam, minha imaginac,ão voa, meus demônios fazem a festa nos meus nervos, então resolvi sair e passear pela área pra esfriar as cabec,as, um rockzinho por ali, um popzinho mela cueca por acolá, batuque mesmo nem caixinha de fósforo nem garrafa de vidro, fiquei trocando idéia com algumas pessoas, aqui na Suécia é bom por causa disso, se você quer puxar conversa com alguém basta falar sobre o tempo, não tem erro, é só chegar e mandar _Que bom que o tempo melhorou né!...Tá um friozinho gostoso…Esse verão tá fraquinho hein…Parece que amanhã vai esquentar…etc…etc…etc…qualquer coisa serve, eles simplesmente adoram falar sobre o clima, é o assunto preferido em todas as rodas, ninguém troca um bom dia sem fazer algum comentário sobre o tempo, a previsão na tv é o programa mais asssistido, imperdível, portanto quer fazer amigo ou uma paquerinha, manda ver, é infalível, agora vai com calma, não adianta chegar falando algo tipo assim_Essa chuvinha dá vontade de ir pra casa trepar!...ou…Que calor, vamos tomar um sorvete lá no meu ap?...pode não dar certo, mas se colar colou. Quando tava voltando pro hotel parei num parque e deitei no centro de um brinquedo que era algo como uma piramide com um balanc,o bem no meio, não deu outra, botei o pau pra fora e bati uma punheta para o silêncio e para o friozinho da brisa da noite. No dia seguinte já saí do hotel fantasiado, foda-se, vou vestir o personagem e me divertir, tomei uns Red Bulls e a bandinha do dia era bem mais sofisticada, tocando um jazz-bossa bem gostoso, fiquei fazendo performances pelo espac,o, dancei no palco para alegria da velharada, e me deram corda então resolvi cantar ”Garota de Ipanema”, mico total, saí sapateando rapidinho dali escondendo a cara atrás da minha sombrinha verde-amarela. De noite chegou Otávio outro brasileiro-sueco animadinho , ficaram ele e Uirá babando desesperados por qualquer buceta que passasse, eu recepcionava elas, primeiro perguntava se falavam espanhol ou português, não, então mandava olhando bem nos olhos delas_ Você pode ganhar aqui três caralhos duros em todos os buracos, fique a vontade_depois me desculpava por estar falando português e os dois ficavam se mijando de rir, Uirá falou que Otávio ía dormir com a gente no hotel, fudeu, pronto, chamou mais um pra me segurar, vão me estuprar, o que tiver que ser será. De noite saimos pra farra, Landskröna fica próxima de várias outras cidades, e numa só noite fomos em três diferentes na BMW de Otávio, que ele comprou com seu dinheirinho suado de trabalho quase escravo aqui na Suécia, é assim, trabalhe sem parar e compre tudo o que você puder e finja que está feliz por causa disso. Resolvemos ir para Malmö, curtir uma boate lá e aproveitar para dormir na casa de Otávio, Malmö é uma das maiores e mais moderninhas cidades da Suécia, enchemos a cara na Debaser uma boatezinha com cara de Underground mas cheia de gente metida a besta, meus amigos playboy aqui na Suécia é foda, dá vontade de vomitar, e os seguranc,as então parece que estão ali para fazer tudo o possível para que você não se divirta, repressão total, mas depois de alguns drinks, consegui esquecer a fila quilométrica que tivemos que enfrentar para depois averiguar que o lugar não estava cheio, e aguentar o hip hop mela cueca que estava tocando, e aquelas pessoas todas perfeitas rindo e gritando histericamente. Acordamos cedo e nos mandamos, que aquele era o principal dia do Karnaval, quando iria rolar o tal desfile, e parece que finalmente um batuquezinho, devido minhas piruetas do dia anterior os olheiros da organizac,ão fizeram questão de minha presenc,a no desfile, beleza, quero sair de fio-dental como rainha do carnaval, bom, me explicaram que não seria possível pois já havia uma outra brasileira vagabunda que tinha chegado antes de mim, botei um figurino de arrebentar muito red bull com cerveja na cabec,a e me joguei, a coisa funcionava mais ou menos assim, eram vários núcleos, cada um com sua pequena bateria, eu dei uma circulada geral, e scolhi a dos romanos que estavam tocando menos mal que as outras, invadi a ala sem pedir licenc,a, primeiro eles me olharam meio torto, perguntando-se quem é esta criatura, depois que eu mostrei meu carisma natural e samba no pé eles foram relaxando, tinha umas passistas suecas gostosinhas e fiquei por ali abanando o rabo delas, na primeira meia-hora já tava morto esbaforido, mas puxei o gás e fui em frente, não vou arregar pra esses gringos de jeito nenhum, era passo de frevo, samba, capoeira, funk, axé, todo o meu repertório, quanto mais o povo aplaudia mais eu me empolgava, resumindo, quando terminou o desfile quase duas horas depois eu não conseguia nem andar, entrei em coma, físico e mental, me bateu uma deprê braba, apesar de ter me divertido fiquei me perguntando porque me entregar daquele jeito, já que a maioria daquelas pessoas deveria estar ganhando um din din, e eu ali de otário,fazer o que? Vou me candidatar para ser a rainha do ano que vem né. De noite encontrei um brasileiro que eu já conhecia do Rio que estava passeando por lá com seu namorado dinamarquês, eles iríam voltar de trem ainda naquela noite para Copenhagem, não deu outra, meus diabinhos comec,aram a girar de mãos dadas em volta da minha cabec,a gritando olê olê olá, me empolguei e resolvi ir junto, mesmo com todo o cansac,o dos três dias de trabalho, desfile, e depois de desmontar a parafernália toda e jogar dentro do trailer, ainda arranjei forc,as nao sei de onde para pegar o trem as duas da manhã para bater perna na Dinamarca, fomos direto para a ruazinha inferno cheia dos tipos modernos, andróginos e esquisitos que eu gosto, típicos da madrugada de Copenhagem, foi divertido, adoro este tipo de iniciativa imprevisível e irresponsável, cruzar a fronteira para outro país as duas da manhã num trem subterrâneo que passa por dentro do mar, é por si só uma aventura bastante excitante, voltei me arrastando na manhã seguinte, absolutamente esquizofrênico de tanta informac,ão e questionamentos acumulados, entrei em parafuso, mas depois de umas boas hora de sono e de conseguir acalmar a fúria do hank pela meu pequeno passeio
fora do país, tudo já voltou a normalidade habitual no meu reino encantado da escandinávia.

g.q.


Tuesday, July 24, 2007


a fonte da eterna juventude
é amar a quem nos ama sem reservas
e entregar a nossa boca para o beijo
e entregar o nosso corpo para o amor
pois o corpo só é corpo
com outro corpo que lhe dê calor
a fonte da eterna juventude
é a alegria e o prazer de um abraço
é fazer com que dois corpos
ocupem o mesmo lugar no espaço
eliakin rufino

Thursday, July 19, 2007

LONGA VIAGEM DE UM DIA NOITE ADENTRO
Já faz um tempo que estou por escrever algo sobre este verão sueco cheio de flores que insistem em não acreditar que a primavera já passou, algumas já estão murchando e eu não posso descrevê-las fotograficamente com a exuberância perfumada em que me parei a a dmirá-las e a respirá-las em cada esquina em cada janela em que elas derramavam suas cores, agora restam algumas pétalas espalhadas colorindo as calc,adas, e não posso evitar esse arrebatamento esse deslumbre essas rimas pobres no meu escrever repleto de encantamento. Hoje faz sol, um sol imponente, impiedoso, que espalha toda essa luz na tarde sonolenta que se prolongará até quase o fim das horas ignorando a existência da noite. Alguns dias atrás foi Mitsöma, e todos os suecos comemoraram o dia mais longo do ano, quando se pode contemplar o sol da meia-noite, é uma beleza implacável , a ausência de escuridão espalha uma penumbra única e uma energia que leva as pessoas para as ruas como se aquele fosse o último dia na terra, e tudo vai além do meu entendimento e eu me sinto absolutamente confuso e eufórico como se estivesse cheio de ácido numa rave que só terminaria quando finalmente anoitecesse e todos adormeceriam para sempre, um prenúncio de morte, um vislumbre de apocalipse, e é tudo tão belo tão calmo tão divino, que imagino ser assim uma morte por overdose de luz, pequenas doses letais penetrando os olhos e os póros até que uma claridade eterna illumine todos os pensamentos e tudo se torne tão puro e óbvio numa verdade absoluta…e pronto…e fim…Mas a noite veio tardia, e com ela o vento frio, e acendemos as velas e nos abrac,amos e oferecemos nossos carinhos de luva, meus instintos de animal noturno agradecem e deixo-me envolver pelo breu e por milhões de pensamentos absolutamente devassos, minha memória fervilha cheia de pecados, pois foram todos fabricados pelos demônios que me habitam dentro da noite eterna, mas agora eles não estão aqui, e foi tanta luz que estou cego para estes seres todos que me perseguem, o sol apagou toda a podridão e acendeu a faísca do olhar na ponta do dedo de Deus que fura o céu e risca de nuvens a distância embalada pelo vento das lembranc,as, é tempo de viver na claridade dos dias que se prolongam por dentro do sonho, o novo a cada estalo de pálpebras flamejando de beleza, e as velas acesas me trazem a presenc,a de bruxas e outras criaturas mágicas e forc,as invisíveis, e todo esse mistério me enche de vontade de sair voando e abrac,ar a paisagem e engolir o horizonte e dovorar minha própria fome de estar vivo atravesssando esse tempo onde tudo já tão velho tão antigo abre espac,o para que o novo me atropele com a forc,a da natureza que se renova a todo instante, a fudida arrebatadora perfeic,ão da natureza, essa forc,a que vem lá das profundezas da terra e acende tudo de verde em volta e se perde ao longe no voô de um pássaro, e eu aqui sentado colado a este tronco de árvore sendo fuzilado de pensamentos de luz, explosões de cores no meu silêncio cheio de música por dentro do corpo anestesiado, posso ficar aqui escrevendo sem parar e descrever a eternidade através das estac,ões que seguem seu fluxo absolutamente divino num encaixe que vai além de qualquer estudo ou compreensão humana, e sei que todas essas folhas vão ficar amarelas e cair, deixando as árvores nuas e o caminho coberto de um tapete amarelo e depois tudo vai congelar e um manto branco vai cobrir a paisagem e depois de um longo período em que o tempo também parece não passar, finalmente o sol vai voltar derretendo tudo e vai ser uma explosão de cores e sentimentos e tudo vai nascer novamente, novas flores novas folhas e novos amores e novos sonhos, e o sol poderoso na ponta do dedo de Deus ficará cada vez mais presente, ignorando a existência da noite, da escuridão, de meus instintos de animal noturno cheio de podridão, e eu ainda estarei aqui colado a este tronco absolutamente iluminado, cego de tanta luz, vivo dentro da eternidade, morto de perplexidade no encantamento que não permite qualquer descric,ão fotográfica de minha limitada literatura, mesmo que eu fique aqui escrevendo através das horas infinitas…escrevendo…escrevendo…escrevendo…respirando…
escrevendo…respirando…escrevendo…respirando…escrevendo…sem parar nunca…nunca…nunca…nunca…nunca…nunca…


g.q.


Friday, July 06, 2007

Monday, July 02, 2007

APOCALIPSE BLUES ESSE É O DIA EM QUE AS PESSOAS QUE CULTIVAM O ÓDIO NO CORAC,ÃO ENXERGARÃO UM ESPELHO NEGRO NO CÉU
E AS NUVENS PASSAM MOSTRANDO SUAS VIDAS MISERÁVEIS COMO UM CINEMA BIZARRO NAS ALTURAS
E TODOS ELES CAMINHAM PARA OS PRECÍPIOS FEITO ZUMBIS ENFILEIRADOS ENQUANTO AS NUVENS PASSAM CONTANDO SUAS HISTÓRIAS
AS MÃES TAPAM OS OLHOS DE SEUS FILHOS PARA QUE ELES NÃO VEJAM TAMANHA SUJEIRA
UM CHEIRO DE PODRE SAI DE SEUS CORPOS ANESTESIADOS PELA PERPLEXIDADE E PELO ACÚMULO DE RANCOR
ELES ACHARAM
QUE NÃO PRESTARIAM CONTAS
ELES PENSARAM
QUE TUDO SERIA ESQUECIDO
ELES ESPERAVAM
QUE UMA MORTE RÁPIDA PORIA FIM A TUDO
MAS EIS QUE CHEGA EM VIDA O DIA DA HUMILHAC,ÃO
ELES VIRAM
UM ESPELHO NEGRO NO CÉU
ELES SENTIRAM
O VAPOR DOS PÓROS DA TERRA EM CHAMAS
ELES ANDARAM
ATÉ A BEIRA DO DESFILADEIRO DE SEUS SENTIMENTOS APODRECIDOS
ELES ESPALHARAM
O FEDOR QUE ACUMULARAM NA ALMA
ELES CARREGARAM
O PESO DE TODOS OS CADAVÉRES E TODAS AS MENTIRAS
OS ABISMOS GRITAM DE FOME DE JUSTIC,A
OS VULCÕES EXPLODEM O SANGUE ABSORVIDO DURANTE OS SÉCULOS
ONDAS GIGANTESCAS ESTÃO SE FORMANDO AO LONGE NOS OCEANOS EM FÚRIA, MAS NÃO TÃO DISTANTE
E ESTAS SÃO PARA AQUELES QUE ASSISTIRAM A TUDO CALADOS
QUE SÓ FIZERAM APONTAR OS PECADOS
QUE FECHARAM SUAS PORTAS PARA OS DESESPERADOS
E FICARAM LÁ DENTRO TRANCADOS
COMO SE A IGNORÂNCIA ALGUMA VEZ
TIVESSE SALVADO A VIDA DE ALGUÉM
E AGORA VOCÊ ASSISTE A ESTE DESFILE DA PARADA DOS ZUMBIS MORIBUNDOS
E VOCÊ DÁ GRAC,AS A DEUS PORQUE VOCÊ ACHA QUE ESTÁ SALVO
PORQUE VOCÊ É UM CRISTÃO QUE DÁ ESMOLAS
PORQUE VOCÊ CHEGOU SEMPRE NO HORÁRIO
PORQUE VOCÊ CHOROU QUANDO AS TORRES CAÍRAM
PORQUE VOCÊ ACENDEU UMA VELA PARA OS MORTOS DA CHACINA
PORQUE VOCÊ AJUDOU O CEGUINHO A DOBRAR A ESQUINA
PORQUE VOCÊ CRUZOU PRO OUTRO LADO QUANDO ENXERGOU O PECADO
PORQUE VOCÊ ASSISTIU TV SENTADO COM SUA FAMÍLIA POR HORAS E HORAS
NÃO EXISTE MAIS TEMPO PRA ILUSÃO NEM PRA SALVAC,ÃO
A TV ESTÁ FORA DO AR
VOCÊ JÁ NÃO PODE ASSISTIR A PREVISÃO DO TEMPO
MAS EXISTE UMA ONDA GIGANTESCA SE FORMANDO PRA VOCÊ AO LONGE NO OCEANO, MAS NÃO TÃO DISTANTE
JÁ NÃO HÁ MAIS TEMPO PARA LAMENTOS NEM ARREPENDIMENTOS
E NÃO EXISTE PARA ONDE CORRER
SE VOCÊ NÃO AGUENTA O CHEIRO DE PODRE
E O BALÉ BIZARRO DO ESPELHO DE NUVENS NEGRAS NO CÉU
UMA CHUVA AMARGA COM GOSTO DE LÁGRIMAS VAI TE ELCANC,AR
O GRITO DOS ABISMOS
O VAPOR DA TERRA
E QUANDO ACABAR A GRAVIDADE VOCÊ VAI CRAVAR CORRENTES NO CHÃO
AO INVÉS DE SE PERMITIR O VOÔ
AO INVÉS DE PLANTAR UMA SEMENTE
POIS CHEGOU O DIA QUE TODOS SABIAM MAS FINGIAM NÃO ENXERGAR ENQUANTO PREPARAVAM O JANTAR E MUDAVAM O CANAL QUANDO A NOTÍCIA ERA TRISTE DEMAIS
E AGORA A TV ESTÁ FORA DO AR
E OS INOCENTES ESTÃO TOTALMENTE PERDIDOS
A VIDA É MUITO MAIS CRUEL QUE A DA NOVELA
E A VERDADE EXPLODE NAS RUAS, MUITO MAIS CRUA QUE A DO JORNAL
A REALIDADE TEM CHEIRO, TEM COR, TEM ROSTO
OS ASSASSINOS DESFILAM NA SUA RUA
E VOCÊ OS RECONHECE, SÃO SEUS VIZINHOS
NÃO TEM SALVAC,ÃO, A TV ESTÁ FORA DO AR
VOCÊ ASSISTE AO DESFILE DA PARADA DAS CRIATURAS INSANAS PELA JANELA
E ESPERA
PELA ONDA GIGANTESCA QUE ESTÁ SE FORMANDO AO LONGE,
MAS NÃO TÃO DISTANTE.

G.Q.

Friday, June 29, 2007

ERRANTE CAMINHANTE
Meu corpo se equilibra sobre meus passos
Meus pés descalços me arrastam pelo asfalto
Do alto as nuvens me sugam os cabelos e os pensamentos
Me vejo perdido vagando no tempo
Sou tudo leveza de estar assim tão solto
Nunca o pouco foi tão muito
Na minha ausência de desejos
Só vou seguindo
Sozinho
Sigo indo
Sorrindo
De meus medos
De mão dadas com meus fantasmas
Nada me entristece
Nada me cala
O silêncio não me abala
Vejo a luz de algum olhar distante
Disparando tiros de flores no meu caminho
Tenho um caos de doçura pra alcançar
Antes do anoitecer
Tenho a noite inteira pra me perder
Entre clarezas de idéias acesas
Por dentro do sonho que nunca sonhei
Que por isso mesmo é conquista
Feito terra à vista
Feito mar aberto
Feito sonho desperto
E de tanto amanhecer
Madrugadas me levam longe
Tão cedo tudo me chega
Sem buscas de distâncias inalcançáveis
Tenho uma loucura secreta pra cada dia
Me revelo inteiro no que se anuncia
Certo de ser o que não tem planos
Tranquilo em saber que tudo é por acaso
E que nada está traçado
Como gostaríam de acreditar os inconformados
Sou um alvoroço manso
Tenho carinhos de furacão
Tempestades me guiam
Abraços me ardem
Acidentes me atiram longe
Tenho um grito guardado
Que vai parar o tempo
Quando alguma sanidade me entorpeça


Para Adriana Monteiro de Barros.



Wednesday, June 27, 2007

14 MOTIVOS PARA CONTINUAR LUTANDO PELA LIBERDADE
para Roberto Freire



pra que de tolerância se fac,am as relac,ões humanas!

pra que a compreensão encerre as repressões insanas!

pra que a revoluc,ão se baseie na alegria!

pra que de prazer se firme uma anarquia!

pra que a transformac,ão se reflita na beleza!

pra que com abrac,os se curem as tristezas!

pra que a saúde seja a nossa ideologia!

pra que se negue para sempre a hipocrisia!

pra que de aceitac,ão seja feita a nossa vontade!

pra que de tesão seja a febre que no corpo arde!

pra que de entrega seja a nossa luta!

pra que de plena harmonia seja o que se escuta!

pra que da luz do sol brote nossa sorte!

pra que com amor se venc,a a morte !

g.q.



Tuesday, June 26, 2007


UMAS VERDADES INCONVENIENTES E ALGUMAS MENTIRAS INOFENSIVAS,
I DON’T GIVE A SHIT


Bom, eu tenho algumas revelações muito importantes para fazer neste momento, as geleiras da Antártida estão derretendo, o oceano vai invadir os continentes e bilhões de pessoas irão morrer, pronto, falei, não adianta entrar em pânico se você é mais um hipócrita que finge se importar com isso e não faz nada pra diminuir o índice de poluição no mundo e o buraco da camada de ozônio, e também nunca fez o exame de HIV e enche a cara constantemente e trepa com qualquer um sem camisinha e parou de falar com seu vizinho viado quando ele começou a ficar esquelético e prefere dizer pra todo mundo que ele morreu de uma ”doença rara” do que contar a verdade, pronto, falei, a hipocrisia me enoja, tô assim hoje, odeio mentiras, e tem mais uma coisa, vou falar tudo agora, eu e Frodo estamos tendo um caso, não tem jeito, minha vida amorosa é uma coisa bizarra, na verdade se é pra falar, vou falar logo tudo, Frodo e Hank são a mesma pessoa, Hank é a identidade secreta que Frodo assumiu depois que ”O senhor dos anéis” faturou milhões e ele não podia mais passear em nenhum bosquezinho sossegado, então ele fugiu pro Brasil, e foi lá que a gente se conheceu durante o carnaval no meio da Banda de Ipanema, numa estranha coincidência, quando Frodo estava fantasiado de Bruxa má do leste e eu de Dorothy, foi amor instântaneo e nunca mais nos separamos, pronto, falei, quem não acredita em duendes, ou que é possível se apaixonar durante o carnaval, ou ainda repete por aí que trepar com camisinha é o mesmo que chupar bala com papel, ou nunca ouviu falar em camada de ozônio, que se foda. Sei que estou aqui feliz ao lado do meu herói encantado, vivendo nossa farsa aqui na Suécia, onde todo mundo finge ser o que não é e ninguém tá nem aí pra vida de ninguém. Frodo resolveu receber algumas pessoas hoje à noite pruma reuniãozinha informal, eu avisei que hoje estou atacado, ele falou que não importa, então tá, convidou seus amigos suecos que tem em comum o fato de importarem puros sangues fudedores da América Latina, chegaram Stefan com sua esposa, a poderosa feiticeira bahiana que já comentei, e Ane Marie, coroa arretada acompanhada de seu negão cubano que deve ter uns 30cm de pica, o que me deixa nervoso, não de inveja é claro, porque eu só não nasci negão por um desses mistérios da genética, depois foram chegando nossos amigos famosos , Al Gore, que compartilha com Frodo o gosto pela causa ecológica, e trouxe com ele seus animais de extimação inseparáveis, um urso polar, uma gibóia, um tamanduá, um rinoceronte, um unicórmio e uma arara de duas cabeças, depois chegaram Bono Vox e Bob Dylan, que estão tendo um caso secreto e vão adotar uma criança aidética do Timor Leste, porque Bono morre de inveja da Angelina Jolie depois que ela catou o Brad Pitt, eis que para meu total desbunde e emoção, adentra o apartamento Kurt Cobain, é meus amigos, Kurt não morreu, ele fingiu o suicídio para viver longe de toda essa maquinaria da mídia que ele tanto abominou, assim como fizeram Jim Morrisson e Elvis que fugiram para África para serem traficantes de armas como Rimbaud e viverem seu amor longe dos holofotes, mas isso é outra história, quando eu vi Kurt, pirei, fui logo lembrando que eu estava lá no show do Nirvana no Brasil quando ele mostrou o pau pras cameras da globo e cuspiu na cara do Brasil inteiro, ele me esnobou e foi prum canto injetar um pouco de heroína, então chegou a velha neurótica da porta ao lado, e logo em seguida Quentin Tarantino que a a gente empurrou pra fazer companhia pra velha, Tarantino como bom alcólatra começou a servir drinks estranhos, e todo mundo foi ficando bem louco, o cubano revelou-se uma pessoa intragável, não deixando ninguém falar, e enumerando suas incontáveis habilidades, mas quando ele falou que o carnaval cubano era melhor que o brasileiro, eu fiquei realmente irritado, subi em cima da mesa e o desafiei prum duelo de pica, abaixei minhas calças para o deslumbre geral, Bob Dylan teve que segurar Bono pelos cabelos, que ficou babando querendo cair de boca imediatamente, o cubano tentou escapar de todas as maneiras, mas Tarantino que é realmente um cara durão e porra louca, ameaçou chamar seus amigos barra pesada de ”Cães de aluguel”, quando o cubano lembrou da cena de tortura com direito a orelha decepada, subiu rapidinho na mesa e abaixou as calças, foi risada geral, o negão carregava um cotoquinho preto no meio das pernas, aí eu cresci mais ainda pra cima dele, vai dar o rabo pro Fidel Castro seu cubaninho escroto prepotente, botei Ane Marie de quatro e comecei a fuder ela no cú, ele caiu de joelhos e começou a chorar, aí eu tirei a pica e acertei um jato de porra bem no seu olho, todos aplaudiram e a festa continuou bem mais animada, eu fui fumar um cigarrinho com Tarantino e aproveitei pra elogiar seu novo filme ”Death Proof”, que é do caralho, cheio de todos seus fetiches característicos, incluindo closes de pés, diálogos sagazes, música cool estranha e mulheres grandes e gostosas, e foi então que Frodo me revelou sua maior surpresa da noite, aproveitando que a velha neurótica já estava mais pra lá do que pra cá, levamos todo mundo pro terraço, local do trauma, e derrepente adentra o local um grupo de sadomasoquistas carregando velas e pingando cera quente no corpo, rodearam a velha e começaram a pingar cera nela, logo em seguida entra um grupo de sapateado flamenco quebrando tudo, o lugar fica quente, e a velha é tomada de um surto frenético e começa a pingar vela no corpo inteiro, sapateando abraçada com os dançarinos flamencos, depois ela se pendurou no meu pescoço e me beijou todo com a boca cheia de cera gritando eu te amo eu te amo, em sueco é claro, fiquei extasiado, minha vingança estava efetuada, depois foi a hora da surpresa para Al Gore, os masoquistas abriram suas pernas e começaram uma longa sessão de fist, para quem não sabe, trata-se de um fetiche muito popular, que consiste em introduzir o braço no ânus do companheiro, sabe-se também que os adeptos da prática começam introduzindo dedos, depois mão, depois braço,depois dois braços, depois objetos, etc, etc, etc, Al Gore foi ficando enlouquecido com aquilo, bradando uns cânticos estranhos que Frodo identificou como sendo de uma tribo aborígena obscura da Austrália, mandou buscar a gibóia que ele prontamente enfiou toda no rabo, quando ele começou a mandar buscar os outros bichos nós percebemos que a coisa ía ficar realmente bizarra, eu propus descermos pra sala para discutirmos o desmatamento na Amazônia como gente civilizada, mas depois dos drinks, performance sadomaso, sapateado, fist, já estavam todos em transe e resolveram se entregar ao excesso total, Ane Marie e a feiticeira Bahiana começaram a injetar heroína uma na outra se beijando e sapateando sobre o corpo do cubano que gemia humilhado, Kurt Cobain e Tarantino e Stefan faziam uma tripla penetração na velha, um pau na boca, outro no cú, outro na buceta, ela nunca foi tão feliz em toda sua vida, Bob Dylan e Bono se juntaram com Al Gore que a esta altura estava sentado na cabeça do unicórnio com o chifre todo dentro metendo os braços no rinoceronte, enquanto Bob enfiava a tromba do tamanduá no cú e chupava o pau do urso polar, e bono com as duas cabeças das araras introduzidas cantava”…in the name of love…what more in the name of love?...”, os masoquistas estavam comendo sua própria merda e chicoteando os dançarinos que sapateavam sangrando por cima de todos, eu e Frodo assistíamos a tudo encantados com tamanha fúria descontrolada de nosssos amigos, mijávamos em cima deles e jogávamos confete e serpentina e cocaína para o alto, era um espetáculo ímpar de liberdade e prazer de tantas personalidades distintas entregues a lúxuria orgiástica, acabamos todos enrroscados como um bolo de carne cheio de porra. Foi realmente uma reuniãozinha muito divertida, é assim aqui na Suécia, depois de alguns drinks, as pessoas se soltam, e são capazes de coisas que até Deus dúvida, no dia seguinte ninguém comenta nem lembra de nada, amnésia total, mas também quem iria acreitar que Al Gore esteve no nosso sótão praticando fist com uma gibóia? E que trepar com camisinha é 100% seguro? E quem acredita que eu tenho uma pica maior que a do negão cubano da Ane Marie? E quem vai me garantir que Kurt Cobain está realmente morto se ninguém viu o corpo dele? Você acredita em unicórmios? E que a Amazônia foi vendida pros norte-americanos? Acredite se quiser, e desminta se puder, se você nunca enfiou nem um dedinho no seu cú nem no de ninguém, azar o seu, mas se for tentar agora, cuidado, é uma prática altamente viciante.

G.Q.