Sunday, July 20, 2008


lá vem ela ou ele ou aquilo
objeto humano ou extraterrestre
ser isento de definições de gênero
caminhando serelepe saudando a plebe
com seu traje de lycra amarelo
um anti-herói no cartoon da madrugada
apenas mais um exagero de síntese do grotesco
feito a fancha bêbada na sua discussão eterna
com sua vítima entediada
ou a outra que caminha trôpega
desfilando vulgaridade explícita
na sua embriaguez exibicionista
cumprimenta a todos com tapinhas de cumplicidade
que numa resposta um pouco mais forte
a derrubaria mais adiante
o rapaz de olhos e passos vidrados
parece ter encontrado uma vítima
e depois de uma curta negociação
parte acelerado rumo a não sei onde
e volta atrasado mais bem sucedido
encontrando seu cúmplice inquieto no décimo cigarro
e entregando-lhe o conteúdo esperado num gesto rápido
fica por ali a espera do próximo vôo até o morro
os comparsas moradores da rua
agem juntos na sua mendicância eficaz
expondo ao máximo suas fraturas sem comover ninguém
vencem pelo cansaço e acumulam lucros
que serão empregados num amanhecer
cheio de sol e cachaça nas areias da praia
as bichas velhas caminham famintas e ignoradas
as afetadas espalham risadas histéricas
as malhadas assistem a tudo de cima
exibindo seus carões e músculos
sem dar trela às velhas e as afetadas nem ninguém
terminarão a noite masturbando-se
com consolos gigantes enfiados no cu
as únicas que saem ganhando sempre são as gringas
que investem caro, mas gozarão divinas
enrabadas por um ou dois garotos de programa
e além de prazer receberão de brinde um vírus qualquer
a polícia não podia faltar no circo
e arma sua barricada de extorsão
iluminando a passarela dos animais noturnos
com suas sirenes pós-modernas
rose bombom acena para eles
e parte acelerada no seu táxi rumo a baixada
provavelmente cheia de cocaína escondida em baixo do saco
depois de mais uma noite de bizarrices
que eles chamam de show no palco da le boy
os que chegam a essa hora passam direto para o darkroom
buscando prazeres rápidos com suas bocas nervosas
mãos frenéticas e gélidas carnes flácidas
uma cena em cada esquina
a favela crescendo por trás do túnel
a lua espalhando seus fluídos mais nefastos
penetrando os sentidos dos seres mais suscetíveis
entregues a todos os impulsos e a qualquer novidade
é só mais uma noite tranqüila no reduto gay de Copacabana
o mendigo acende a bagana
a puta cheira a última carreira
eu fecho a conta
e subo pro 209 do Bronx para eternizar a noite nestas linhas.

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