Friday, May 30, 2008

atrás das grades
a palavra arde
o sangue esquenta nas veias abertas
do céu que escorre pra dentro da jaula
o desejo inerte paralisa o instante
dos que esperam por algo chamado liberdade
travestido de justiça
armados de pretenciosa audácia
adentramos o inferno
encaramos o demônio
e vomitamos nossos medos pelo chão sujo
e fizemos brotar flores pelos cantos húmidos
borboletas do musgo
pássaros apareceram atravessando as paredes
e soprando canções pelas frestas
acordando a surdez do presente insano
e acendendo na escuridão dos sentimentos
apodrecidos pela esperança estagnada
as cores dos versos banhados em lágrimas
olhei nos olhos de meus fantasmas
e encarei de frente
minha própria farsa hipócrita
de ser um livre cidadão
seríamos qualquer um de nós mais livres
que aqueles que ali estavam?
como disse um deles,
"a pior prisão é a da própria mente"
seria eu mais ou menos criminoso
que qualquer um daqueles espíritos trancados?
não sou mais isso, nem menos aquilo
somos todos parte do mesmo crime perfeito
planejado pelas mesmas tramas de um Deus
que assiste a tudo do alto
sem entender o que foi que deu errado
adentramos o inferno
com a única arma que nós tínhamos
nossa arte
olhei nos olhos de meus demônios
e tive medo
de mim mesmo

poesia

livrai-me de todo mal.


g.q.


(poema escrito após a visita dos Voluntários a carceragem de Nova Iguaçú)

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